quinta-feira, 17 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 19)


- Pois bem. Pergunte-me o que você deseja saber sobre mim.
- Quero saber onde seus pais moram. Não sei de onde você veio.
- Eles moram em uma cidadezinha chamada Vila Real – respondi e isto era verdade. Mentir a minha origem poderia me complicar futuramente. Isto é, se houvesse algum futuro.
- Você nasceu lá?
Pergunta difícil.
- Lá onde?
- Em Vila Real.
Lembrei que deveria manter minha carteira de identidade longe dele. Se ele soubesse o nome dos meus pais e o lugar que nasci, a porcaria estava feita.
- Não, nasci na cidade ao lado – menti descaradamente – Em Vila Real não havia maternidade na época.
- E o que seu pai faz lá? Já está aposentado?
Cruzes. O cerco se apertava.
- Ele tem um armazém.
Verdade. Prossegui:
- Trabalha porque quer agora. Ele se aposentou há pouco tempo.
- E sua mãe?
- Minha mãe?
Lembrei que minha mãe, quando éramos ricos, era uma dondoca. Vivia em salões de beleza, era uma mulher muito elegante. Depois da nossa falência, ela ficou tempos deprimida e sua beleza se foi. Ela definhou, deixou os cabelos brancos aparecerem e até achávamos que ela jamais iria recuperar a alegria de viver. Felizmente, quando o armazém do meu pai começou a prosperar, mamãe passou a ajudá-lo. Atualmente ela ía muito bem, voltando quase a sua antiga elegância. Passava o tempo fazendo trabalhos voluntários na igreja, atendendo no armazém e se dedicando a trabalhos manuais.
Tudo isso passou pela minha cabeça como um filme. Lembrei que o pai do Nando tinha sido o responsável por todo nosso sofrimento. Eu tinha a obrigação de odiar o meu primo, mas estava se passando justamente o oposto.
- Algum problema com sua mãe?
Lógico que ele havia percebido a minha demora em responder. Engoli em seco e respondi:
- Não. É que… houve um tempo em que ela não esteve muito bem.
Esperei que ele parasse com aquelas perguntas.
- O que era? Ela ficou doente?
- Depressão – disse eu rapidamente – Mas agora ela está bem. Ela ajuda meu pai e tem muitas atividades em Vila Real.
- Ah, isto é muito importante – retrucou Nando, encarando-me – Manter a cabeça ocupada é a melhor coisa para afastar pensamentos negativos.
- É verdade – concordei ansiosa para acabar com aquele assunto – Nem me preocupo com ela agora.
- E eles nunca vêm visitar você e sua irmã?
- Pouco, por causa do armazém.
- Você deve sentir a falta deles…
Ele fez aquele comentário e ficou esperando uma resposta minha que custou a vir. Eu estava apavorada com o rumo daquela conversa. E se o Nando resolvesse perguntar o nome dos meus pais?
- Eu sinto. Mas procuro nem pensar muito.
- E sua irmã?
Gelei. Rafaela. Não era um nome muito comum. Era certo que ele associaria Rafaela e Pauline às suas primas desaparecidas no tempo e no espaço. Meu Deus! Felizmente lembrei que o primeiro nome da minha irmã era Ana, só que ninguém a chamava pelo nome composto. Nem mesmo meus pais. Acho que eles havia até esquecido que a filha mais velha se chamava Ana Rafaela.
- Ela é mais velha que eu – eu esclareci. Puxa, por que ele não parava com aquele interrogatório?
- Eu sei. Vocês se dão bem?
- Sim. Ela estuda Design também e estávamos pensando em trabalhar juntas. Minha irmã nem sonha que eu penso em largar tudo. Meus pais teriam um troço.
Minha esperança é que o assunto se desviasse para meus planos futuros. Mas não.
- Como é o nome dela?
- Dela quem? – eu precisava ganhar tempo.
- Da sua irmã.
- Ana.
- Ana?
- Sim – e voltei meu olhar para frente, fazendo de conta que eu apreciava a paisagem, embora eu não conseguisse visualizar coisa nenhuma.
- É um nome simples, ao contrário de Pauline.
Meus pais e Rafa somente me chamavam de Paulinha. Os pais de Nando também me chamavam assim há milhões de anos. O motivo? Quando criança era tão magrinha que parecia desnutrida. Poucos me chamavam de Pauline. Nando era uma destas pessoas.
- Realmente minha mãe estava inspirada quando escolheu meu nome.
Outro momento de terror. Ele poderia lembrar que tinha uma prima da minha idade e com o mesmo nome.


2 comentários:

  1. Pois é, nenhuma mentira dura por muito tempo... E será que vale a pena tanto esforço de Pauline? O amado dela pode acabar descobrindo de uma forma pior...

    ResponderExcluir