quinta-feira, 1 de novembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 58)


Peguei o primeiro táxi que apareceu e fui para casa. Não era nem uma hora da madrugada e a bebida que eu havia tomado dava voltas e voltas no meu estômago. Precisava de um banho urgente para esfriar a cabeça. O que Nando estaria pensando? No mínimo pretendendo apertar o meu pescoço.

Quando abri a porta do banheiro, enrolada na toalha, deparei-me com Rafaela. De braços cruzados ela perguntou:
− Conseguiu se safar? Chegou cedo.
− Acho que me safei, sim – respondi mal humorada – Desapareci quando os pais do Nando aterrissaram por lá.
− Imagino que seu namorado tenha ficado muito contente com seu sumiço. Já tem a desculpa pronta?
− Por que você não vai dormir, Rafaela? Isto é problema meu!
− Não é um problema só seu.

Ao dizer isto Rafaela deu as costas e foi para o quarto onde Guto já dormia. Apesar da tensão não custei a dormir. O álcool me causara dor de cabeça e náusea, e ferrei no sono até às nove horas da manhã. Acordei com o celular berrando em cima de mim. Rafaela, emburrada, trouxe-me o aparelho que ficou vibrando no meu peito até que eu assimilasse que aquilo não era um sonho.
− É ele – grunhiu minha irmã para em seguida pegar a bolsa e sair de casa com o namorado.

Com medo das consequências atendi ao telefone, tentando fazer uma voz de doente. Nem precisou. Meu enjoo falou mais alto – não sei se causado pela bebida ou pelo Nando.
− Alô?
− Espero que você tenha uma boa explicação a me dar.
− E eu tenho – retruquei tentando manter a minha voz doentia.
− E qual é a desculpa agora, além do fato de você ter fugido da minha família outra vez?
− Eu bebi demais. Acho que fiquei meio bêbada. Como você acha que seus pais se sentiriam quando conhecessem a nora cheirando a álcool?
Nando ficou em silêncio por segundos, enquanto analisava minha desculpa esfarrapada.
− Eu achava que você não bebia.
− Ontem era uma noite especial. Eu precisava beber para enfrentar o seu círculo de amigos.
− Eles não mordem.
− Mas me olham como se eu fosse um animal no zoológico – protestei e esta parte era verdade.
− Eu namorei anos com Raquel. É compreensível que isso aconteça.
− Tudo bem, eu concordo. Mas voltando ao assunto, achei que ficaria muito constrangedor para todos que eu me apresentasse descabelada de tanto dançar e fedendo à bebida na frente dos seus pais. Você tem que levar isto em consideração.
− Constrangido fiquei eu quando procurei minha namorada e não a encontrei. Sinceramente, preferia ter encontrado você bêbada em um canto a ter que dar explicações furadas sobre uma garota abduzida.
− Eu…
− Não terminei. E você, antes de se escafeder, se atirou na pista de dança com aquela demente da Carol. Uma péssima companhia. Carol bebe até pelos olhos. Meus pais não a suportam.
− Eu a achei bem legal.
Meus revides deixaram Nando mais irritado ainda.
− O que você esconde de mim?
Até então eu discutia com ele deitada na cama. Ao ouvir a pergunta levei um choque – mais um – e me sentei sentindo o coração disparar.
− Não escondo nada – respondi rapidamente, a tensão concentrada toda na minha voz.
− Seu comportamento evidencia isto. Sua voz também.
− Você está ficando neurótico.
− Pauline, você tem outra pessoa em sua vida? Lá na cidade em que seus pais vivem?
Aquilo foi demais para mim. Lágrimas vieram aos meus olhos e comecei a chorar na mesma hora.
− Não admito! Você entendeu bem? Não admito que você pense isto de mim!
− E o que você quer que eu pense? – ele rebateu nem um pouco comovido com as minhas lágrimas – Você é o bicho mais misterioso que já encontrei na vida! O que sei de você? Nada! Tudo é respondido com evasivas! Quantas vezes você esteve na minha casa, comeu, bebeu, dormiu? Você, Pauline, nunca permitiu que eu entrasse no seu apartamento.
Cruzes. Eu nunca tinha percebido que as coisas estavam tão evidentes assim.
− E se você sequer permite que eu vá à sua casa, é porque algo me esconde.
Sim, eu escondo minha irmã, que por sinal é sua prima. Como eu.

Naquele domingo, Rafa não estaria em casa...

− Vem aqui agora, então – desafiei-o cheia de coragem – Está na hora mesmo de você conhecer onde mora a mulher que mais lhe ama no mundo.
− Estou indo agora.


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