sábado, 27 de outubro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 57)


Desci os degraus, mal equilibrada nos saltos altos das minhas sandálias chiques e desconfortáveis. Alguém que não me conhecesse poderia afirmar que era pura elegância. O fato é que eu sempre detestei salto alto e eu não sabia andar direito. Porém, de alguma forma, eu consegui enganar o Nando. Quando ele me viu, veio apressado me receber, muito gentil e educado. Trocamos um rápido beijo e depois meu amor me elogiou, ajudando-me a entrar:
− Você está linda.
− Preferia que você dissesse que estou praticamente irreconhecível.

Seria bem melhor escutar isto. Nando deu a partida no carro e eu comecei a prestar contas.
− Com a grana que você me emprestou, comprei o vestido, as sandálias e ainda sobrou para dar uma chegadinha no salão. No final do mês, quando eu…
− Espere. – ele me interrompeu – Não estou cobrando.
− Mas eu me sinto melhor dizendo a você onde eu empreguei o seu dinheiro.
− Você tem muito bom gosto.
Cada elogio dele me enchia de orgulho, apesar do tumulto que havia dentro de mim. Cautelosamente retruquei:
− Não posso bancar a esquisita na frente dos seus amigos.
− Eles não dão bola para isso.
− Seus amigos têm namoradas. E elas podem ser cruéis. Ah, e você tem amigas que até onde eu sei são amigas também da sua ex.
− Esqueça.
− Já esqueci.

Nossa ida até o Caribbean foi tranquila. Nando estava de ótimo humor. E eu explodindo de ansiedade e terror. Eu agradecia a todos os santos pelos pais dele não terem chegado ainda e assim não estarem presentes para nos recepcionar na chegada. Meu medo me consumia. Minhas mãos estavam geladas.
Nando deixou o carro com o manobrista e segurou minha mão. Ele me encarou surpreso e comentou:
− Você está com as mãos frias.
− Estou nervosa – admiti.
           
A palavra correta era pânico. Senti meus joelhos tremerem a cada passo que eu dava no interior do Caribbean. Antes de encontrarmos com o aniversariante, Nando foi parado diversas vezes. Os amigos que ainda não me conheciam olhavam-me com alguma curiosidade. Aconteça o que acontecer, pensei eu, pelo menos estou no mesmo nível que as mulheres daqui.
           
Um rapaz apareceu ao nosso lado e eu identifiquei-o como meu primo mais novo, o Maurinho. Com este não haveria problema. Provavelmente nem sabia da existência do tio ladrão e da sua família fujona. Cumprimentou-me alegremente e apresentou sua namorada, uma garota maluca chamada Carol. Com um copo na mão, ela parecia pronta para começar a se divertir, sem pensar nas consequências. Então de repente fiquei frente a frente com o Ricardo. Nando o abraçou fortemente e em seguida fez as apresentações:
− Mano, esta é a Pauline. Pauline, este é o Ricardo.
Por dois longos segundos os olhos dele ficaram cravados nos meus, como se buscasse na memória quem era aquele rosto conhecido. Gelei. Contudo, antes que Ricardo tivesse um estalo e se flagrasse que éramos parentes, eu me adiantei e dei-lhe dois beijos no rosto, parabenizando-o.
− Não conheço você de algum lugar? – perguntou ele.
− Não – respondi imediatamente, com a voz mais aguda, de puro terror – Eu acho que nunca vi você.

Nando não esteve atento à troca de diálogos, pois outra pessoa já o tinha puxado para uma conversa. A mulher do meu primo estava ali e eu a cumprimentei também. Então Carol parou ao meu lado, com o copo na mão.
− Você gosta de dançar? – berrou ela por causa da música alta.
− Adoro! – menti. Eu precisava sair correndo dali.
− Então vamos lá!

Carol me puxou pelo braço e me arrastou para a pista. Ela estava “alta” e eu pretendia ficar igual. Bêbada, eu teria mais coragem de agir, ao invés de ficar paralisada pelo terror. Eu o-dei-o música eletrônica, mas eu não tinha opções. Caí na pista, tirei a sandália e eu e Carol começamos a dançar animadamente. Um garçom apareceu e Carol pegou uma bebida para mim e mais outra para ela. Maurinho dançou algumas músicas conosco. Nando apareceu depois um pouco preocupado. Nunca tinha me visto beber e em meio à música alta, perguntou:
− Você não quer comer nada?
− O quê?
− Não está com fome?
− Não!
Aproximando-se de nós, Carol convidou:
− Ei, Nando! Venha dançar com a gente.
Ele balançou a cabeça negativamente.
− Dançar está música de loucos? – e dirigindo-se a mim recomendou-me no ouvido – Não vá beber demais. Esta garota é doida. Não vá atrás dela.
Nos beijamos rapidamente e Nando foi ficar junto da sua turma que nada tinha a ver comigo. Legal mesmo era Carol. Ela bebia sem parar e não dava mostras de estar entrando em coma alcoólica.
Uma hora depois, chacoalhando sem parar, Carol perguntou aos berros:
− Você gosta de pagode?
− Não escutei!
− Pa-go-de! Você curte?
− Adoro!

Mentira.
− Vamos para o terceiro piso! Lá rola direto!
Era tudo o que eu precisava. Não demoraria muito e os pais do Nando iriam chegar e eu precisava estar longe, perto de alguma rota de fuga. Novamente Carol me arrastou escadas acima e eu nem me dei ao trabalho de avisar o Nando. Peguei um petisco no bar e caímos no pagode.
Felizmente Carol era uma professora e tanto. Ela me ensinou alguns passos e eu aprendi rapidinho. Não fosse a tensão que me destruía, eu estaria me divertindo horrores.
De repente Carol parou de dançar e começou a procurar freneticamente o celular dentro da bolsa. Olhando no visor uma mensagem recebida, ela me disse com a expressão séria:
− É o Maurinho. Os pais dele chegaram e ele está nos chamando.
Meus joelhos faltaram.
− Você já os conhece? – ela me perguntou.
− Não.
− Prepare-se. São uns chatos. Vamos.
Desta vez ela não me pegou pelo braço. Carol tomou a dianteira e fomos atravessando aquele mar de gente. Ninguém podia adivinhar que eu estava passando muito mal. No segundo andar, reparei que havia uma porta de saída.

Foi por ali que fugi.


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