−
Paulinha… que fotos são estas?
Rafaela
estava pálida. E assustada. Ao ver o rosto branco da minha irmã, me perguntei
como faria para me livrar daquela confusão. Não enxerguei nenhuma saída que me
salvasse.
−
Quem mandou você mexer aí? – perguntei furiosa, avançando para o computador e
arrancando o pen drive – Você não conhece os limites da minha privacidade?
Minha
irmã ficou em pé aturdida.
−
Aquele é nosso primo Fernando. Você está namorando ele?
Fiquei
em silêncio. Guto apareceu na porta e Rafaela o pôs para correr.
−
Me diga – insistiu ela – Este Nando que você namora é o mesmo Nando nosso
primo?
−
Não sei mais se estamos juntos – grunhi.
−
Meu Deus, Paulinha – e Rafa colocou a mão na cabeça em uma atitude dramática –
Você tem noção do que significa seu envolvimento com ele?
Não
respondi, tensa.
−
Quando você o conheceu já sabia quem era? – perguntou Rafaela com os olhos
arregalados – Diga que você não o tinha reconhecido.
−
Eu sabia – sibilei – Sempre soube. Eu planejei meu encontro com ele na festa de
ano novo. Sempre fui apaixonada por
ele. Assim que tive
condições, passei a acompanhar os passos dele pelo Facebook. Eu sabia onde ele
trabalhava, das festas, dos amigos e até mesmo da namorada que ele largou de
vez para ficar comigo!
Rafaela
era a imagem do choque. Não achei que fosse para tanto.
−
E ele sabe quem é você?
−
Nem desconfia. Estou conseguindo enrolar o Nando e…
−
Até quando você pretende seguir com esta história doida?
−
Não sei! – eu gritei – Me deixe em paz, isto é problema meu!
−
Não é seu – gritou ela também – É um problema que envolve toda nossa família!
−
Se você ficar calada, nossos pais não vão saber de nada!
−
Mas eu jamais faria isso com eles! Não tenho coragem de contar para nossos pais
o que você está fazendo!
−
Se você quer saber, eu pouco me importo se o nosso tio roubou papai! Meu
problema é com o Nando e não vou deixar de viver um grande amor por desavenças
do passado.
−
Você me surpreende, negativamente, cada dia que passa. Agora entendo porque
você não contou para Nando que papai estava doente. Tinha medo que ele fosse
visitar a gente. E o fato do nosso primo me chamar o tempo todo de Ana… Ana
Rafaela não é um nome comum e ele poderia começar a achar que seria
coincidência demais duas irmãs terem o mesmo nome que as suas primas
desaparecidas. E como ele nunca se deu conta que você é você? Seu nome também é
incomum.
−
Porque na nossa família ninguém nunca me chamou de Pauline. E eu mudei um
pouco, creio eu – expliquei arrasada com aquela discussão.
−
Ah, você mudou mesmo. Mas tenho certeza de que nossos tios a reconheceriam até
mesmo no inferno. E é este o lugar que você vai morar quando seu grande amor
descobrir a farsa que você é.
Rafaela
saiu batendo a porta e eu fiquei parada no mesmo lugar, tentando digerir cada
palavra dita por ela. Eu, uma farsa? Sim, eu era uma farsa.
Minha
irmã não ficou em casa. Pouco tempo depois escutei a porta batendo. Mais uma
noite em que eu passaria sozinha e em crise.
E
foi uma noite do cão. Tive sonhos horríveis e realmente, quando me acordei,
meus olhos estavam tão pesados que fiquei em dúvida se tinha conseguido dormir
alguma coisa. Tentei me levantar para ir ao banheiro, mas desabei de volta na
cama estonteada. Subitamente comecei a ficar enjoada e, é claro, entrei em
pânico. Meu mundo rodava, a náusea era cada vez mais forte e eu inteiramente
sozinha, sem ninguém para me ajudar, como sempre.
Nunca
havia me sentido tão mal em toda minha vida. O celular não estava perto. O
banheiro também não. Lembrei-me do Nando e tive vontade de chorar. Seguramente,
naquele momento, não existia no universo inteiro ninguém mais infeliz do que
eu.
Chegou
uma hora que eu não pude mais suportar. Antes que eu vomitasse em cima de mim
mesma, saí da cama, cambaleante e por algum milagre consegui chegar ao
banheiro. Perdi a conta de quanto tempo eu fiquei ali, com a cabeça
praticamente enfiada dentro do vaso sanitário. Achei que fosse morrer quando
deitei no piso frio. De alguma forma aquilo fez com que eu me sentisse
minimamente melhor. Pelo menos o mundo não rodava mais.
Já
eram quase onze e trinta da manhã, quando eu escutei a porta do apartamento se
abrir. Nem acreditei. Seria Rafa? Aquele não era horário dela estar em casa.
−
Paulinha?
Era
mesmo a minha irmã. Entreabri os olhos, meio sonolenta. Eu estava grogue de
tanto vomitar. Oca. Murcha. Quase sem vida, era assim que eu me sentia. Escutei
os passos da minha irmã pelo apartamento, mas eu estava tão fraca que o som que
saiu da minha boca era quase um soluço. Percebi quando Rafa entrou no meu
quarto e se deu conta que minha cama estava desarrumada. Nunca, somente em
casos excepcionais, eu deixo um lençol fora do lugar. Com o pé, consegui
empurrar a porta do banheiro de encontro à parede para chamar a atenção dela.
Meio segundo depois, Rafa estava ao meu lado, totalmente histérica.
−
Paulinha! – berrou ela junto ao meu rosto – O que aconteceu?
Tentei
articular alguma palavra, mas foi impossível. Imediatamente Rafaela sacou o
celular de dentro da bolsa e ligou para alguém.
−
Guto! Venha para minha casa agora! Encontrei a Paulinha desmaiada no banheiro!
Acho que ela está muito mal!
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