terça-feira, 18 de setembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 47)


O sábado foi quase uma repetição da sexta-feira, com a diferença que meu pai fez birra e disse que não ficaria de jeito nenhum enfiado dentro de casa. Como ele estava bem e até mesmo caminhando, colocamos uma cadeira no jardim da frente e ali papai se acomodou cercado dos amigos. Não sabia que ele era tão popular. Eu fiquei ao lado dele, ainda me sentindo fraca por ter comido tão pouco no dia anterior. Tentando não pensar no Nando, dediquei-me a ler um livro para o tempo passar mais rápido.

Meu celular continuava escondido no armário. O medo me assolava.

Um pouco antes do almoço, o desastre. Eu continuava no jardim, ao lado do meu pai. Aquela altura ele estava em pé, conversando em uma rodinha de vizinhos. E eu, sentada, sem conseguir me concentrar na leitura, minha mente viajando pelos lugares mais terríveis possíveis. Nando... o que você está fazendo agora?

Tive a impressão que escutei o som do meu celular tocar. Impossível. Ele estava bem escondido no meio de algumas roupas. Em seguida escutei a voz de Rafaela. Parecia que ela estava falando com alguém no telefone. Guto, com certeza. Porém, mesmo assim eu me levantei desconfiada. Entrei em casa em silêncio. Deparei-me com Rafaela falando no meu celular animadamente. E com o Nando.

Fiquei tão pálida e tão furiosa que quase me atirei como uma leoa em cima dela. Pressentindo minha presença minha irmã se voltou sorridente. Pelo visto tinha achado o cunhado uma simpatia. Há quanto tempo será que os dois primos não se conversavam?

- Nando, ela chegou! E está me olhando furiosa – brincou ela – Legal falar com você! Sim, vamos combinar de nos conhecer. Tchau!

Rafa me entregou o celular, explicando-se:
- Encontrei o seu celular dentro do armário. Quando eu o liguei, tocou em seguida. Atendi porque era seu namorado e até eu encontrar você, ele já teria desistido de tentar.

Pena que não desistiu, pensei. Fui para o quarto com as pernas moles. Sentada na cama e com a voz fraca, eu disse:
- Oi, Nando.
- Por que você não me deu notícias?
A voz dele estava dura. Nossa, e agora?
- Minha irmã deve ter dito para você que eu perdi o celular – eu tremi um pouco no final da frase.
- Não é desculpa, Pauline. Seus pais ou sua irmã não tem telefone aí?
- Nando… Nando, eu não queria incomodar você.
Lágrimas já vinham aos meus olhos.
- Por isto você inventou para a Ana que eu estava em viagem?

Levei cinco segundos para me dar conta que a Ana a que ele se referia era minha irmã.
- Sim.
- Você tem ideia do quanto eu me preocupei com você?
- Imagino.
- Cheguei a ir até seu prédio e fiquei sabendo pelo porteiro que algo tinha acontecido com seu pai.
- Foi tudo muito de repente, meu amor.
- Claro que foi de repente – ele devolveu cada vez mais irritado – Eu nunca vi um acidente estar programado para acontecer. Mas não tem cabimento eu saber o que está acontecendo com você através do seu porteiro.
- Desculpe-me – quase implorei.
- Como está o seu Heitor?

Heitor? Ah, era o nome falso do meu pai.
- Está ótimo.
- Quando você vem?
- Amanhã – respondi meio apavorada. E se ele quisesse vir me buscar?
- Quer que eu vá até aí buscar você?
- Não – respondi rapidamente, arrependendo-me em seguida. Mas aí já era tarde demais.
- Não quer? – Nando perguntou frio.
- É que o Guto vem nos pegar. Não precisa se preocupar com a gente, meu amor. Está tudo bem.
- Realmente... agora não estou mais nem um pouco preocupado.

E dizendo isto ele desligou o telefone, sem ao menos me dar um “tchau”. Fiquei olhando abobalhada para o celular, sem poder acreditar que o Nando tinha feito aquilo. Eu não podia ter perdido meu namorado. Eu não podia!
Rafa entrou no quarto naquele momento e eu tentei disfarçar meu desespero. Engoli em seco e a encarei, enquanto ela dizia:
- Nossa, Paulinha, ele é um amor. Como é simpático! Achei seu celular no meio de um monte de roupas. Você não lembra de tê-lo posto ali?
- Não – e minha voz mal saiu.
- Ele contou que ligou mais de mil vezes para você. Estava morrendo de preocupação.
- Pois é, mas agora está tudo resolvido.
- Só achei estranha uma coisa – disse Rafa e eu gelei de vez.
- O que você achou estranho?
- Ele me chamou o tempo todo de Ana. Eu nem mesma lembro que meu nome é Ana Rafaela.

Eu queria chorar e não podia. Mentiras, mentiras, mentiras.
- Talvez o Nando goste mais do seu primeiro nome.
- Pode ser. Mas quando nos conhecermos, já vou dizer para ele me chamar de Rafa. Ah, vamos combinar uma saída, né? O Guto vai gostar dele também, tenho certeza.
- Eu tinha certeza de que você iria gostar do meu namorado.

Eu nem sabia se ainda tinha namorado. Mas fui em frente, a merda já estava feita mesmo:
- E faça o favor de dizer para nossos pais o quanto ele é querido e simpático.

“Só não conte que ele é da família também.”
           

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