sábado, 8 de setembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 45)


A viagem foi tranquila, em silêncio. Diversas vezes Rafaela tentou se comunicar com mamãe, porém não teve sucesso. Meu coração batia tão forte que parecia que minha irmã e meu cunhado poderiam escutá-lo. A incerteza e o fato de não haver notícias era algo pavoroso. Os piores pensamentos vinham a minha mente. Eu tinha plena certeza de que chegaríamos em casa – ou no hospital – e a notícia seria de que meu pai estava morto. E para completar a desgraça eu não avisara o Nando de nada. Não podia correr o risco de ele querer vir junto. Meu celular se mantinha estrategicamente desligado.

Guto fez o trajeto em tempo recorde. Porém, à medida que nós nos aproximávamos da cidade, mais meu coração saltava. Não era preciso dizer que minha náusea estava cada vez mais forte. Rafaela, ao lado de Guto, também estava branca. Durante toda a viagem ela praticamente não falou nada. E somente um fato muito extraordinário para manter minha irmã calada.

Ficamos na dúvida se deveríamos ir direto para nossa antiga casa ou para o hospital. Eu não queria ir para lugar nenhum. Rafaela achou melhor deixarmos nossas coisas em casa e ver se algum vizinho poderia nos informar alguma coisa. Talvez papai nem mesmo estivesse na cidade. Dependendo da gravidade do caso, ele poderia estar já em outro hospital mais aparelhado.

Entramos na nossa casa vazia. A mesa do café ainda estava posta. Manteiga, geleia, o pão... Acho que minha mãe tinha largado tudo para socorrer meu pai e não tinha voltado mais para casa desde então. Só de olhar para aquele cenário me doía o coração. E a falta que eu sentia do Nando era cada vez mais forte.

Sombriamente Rafa largou sua mochila no sofá e murmurou:
− Isto aqui parece uma casa fantasma.

Torcendo as mãos de puro nervosismo, eu perguntei cada vez mais sem chão:
− E agora? O que a gente faz?
− Que tal se procurarmos algum vizinho? – perguntou Guto, o único ser calmo presente naquela casa – Não era esta nossa ideia inicial?
− Eu não tenho coragem – assumi desabando no sofá – Tenho medo de saber a verdade.
Rafaela estava abrindo a boca para falar alguma coisa quando a campainha tocou. Eu dei um pulo e minha irmã me olhou pálida. Prevendo que nós duas ficaríamos imóveis, Guto tomou a iniciativa de abrir a porta. Era a dona Amélia.

Eu nem me mexi. Esperava o pior totalmente paralisada. Rafa, tentando ser mais corajosa do que eu, aproximou-se da mulher perguntando:
− E então, dona Amélia? Onde está meu pai? Ele… ele…

Para nosso imenso alívio, dona Amélia abriu um sorriso tranquilizador. Meu ar foi escapando devagarzinho, enquanto ela respondia calmamente:
− Está tudo certo, meninas. O pai de vocês está bem. Quebrou três costelas e está voltando para casa amanhã. Pelo visto está melhor que vocês.

Eu e Rafa nos entreolhamos aliviadas e felizes agora. O pavor havia passado. Guto, para descontrair o ambiente, propôs:
− Bem, eu sugiro que a gente vá visitá-lo e depois comer alguma coisa. Agora está tudo no seu lugar.

Meu enjoo foi embora dando lugar a uma imensa fome. Lembrei que poderia ligar para Nando e contar tudo, mas o medo que ele resolvesse vir nos visitar persistia. Fomos direto para o hospital e conseguimos falar com papai. Por causa da pressão alta, ele passaria mais um dia internado. Rafaela se ofereceu para ficar à noite com ele, mas minha mãe recusou. Não arredaria pé dali de jeito nenhum. Resolvemos almoçar no restaurante do hospital mesmo. Porém, apesar da fome, eu não consegui comer muita coisa. Minha preocupação agora se chamava Nando. Então, lendo meus pensamentos enquanto eu remexia no meu prato, Rafa perguntou:
− Você avisou seu namorado?

Levei um choque com aquela pergunta, como se todas minhas mentiras estivessem sendo desvendadas naquele momento. Meio gaguejando respondi:
− Não, eu… eu… ele está viajando.
− E qual o problema? – ela insistiu de boca cheia.
− Ora, Rafa! Não vou incomodar o cara com isto.
− Não vejo incômodo nenhum. Vocês são namorados. Tem que dividir as coisas, assim como eu e o Guto.
Não respondi, chateada com o rumo que a conversa estava tomando. Eu queria muito dividir as coisas com o Nando. Mas não podia. De repente minha fome se perdeu. Empurrei o prato para o lado e desisti de almoçar.
− O que foi, Paulinha? – Guto me olhou estranhamente – Enjoou de novo?
− Estou meio nervosa ainda – menti.
Rafa pegou a comida do meu prato e despejou no dela, dizendo bem humorada:
− Odeio desperdício.

O resto do almoço eu permaneci muda, observando minha irmã e Guto conversarem, animadamente. Eu não tinha sequer coragem de ligar meu celular com medo de encontrar uma mensagem do Nando. Sentia-me completamente sem saída. Pelo menos meu pai estava bem. O resto estava mal, muito mal.


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