sexta-feira, 28 de setembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 49)


O resto da semana foi uma lua de mel intensa e feliz. Nem parei em casa e enquanto não procurei a agência para explicar o meu desaparecimento e dizer que estava fazendo os exames para admissão, a Rafa não parou de me encher o saco. Para ir aprendendo o serviço, me ofereci para trabalhar meio turno até minha situação ficar regularizada. Naquela semana maravilhosa, levei uma vida de mulher casada e adorei cada momento. Às vezes eu olhava a minha mão esquerda e enxergava uma enorme aliança dourada, com meu nome e o do Nando entrelaçados. E tenho certeza de que meu namorado curtiu aquilo tudo também, pois vivemos dias de muito amor. Graças a Deus ele não perguntou nada sobre a minha família e falou muito pouco sobre a dele.

O desgaste ocorreu no sábado. Estávamos voltando do supermercado pela manhã quando o celular do Nando tocou. Naquele momento, antes mesmo de ele dizer “alô”, eu pressenti que a minha paz estava indo para o espaço. E estava mesmo.

Tensa, acompanhei todo o diálogo com o coração acelerado e as mãos úmidas. Quando Nando desligou, eu olhava fixamente para frente, imaginando – e prevendo – o que aconteceria.
– Era o Maurinho. Ele perguntou se eu posso passar lá para pegar um CD.
– Lá onde? – eu perguntei tentando parecer normal.
– Lá na casa dos meus pais – respondeu o Nando, certo de que aquilo era a coisa mais normal do mundo.
– Bem, então você me deixa em casa com as compras – eu retruquei, já transparecendo na minha voz um leve toque de nervosismo – Enquanto você vai lá, eu preparo o seu almoço.

O Nando me olhou como se não estivesse entendendo:
– Pensei em levar você comigo. Já estamos no caminho e você fica conhecendo meus pais também. Podemos até ficar para almoçar lá.
Olhei para ele, sentindo-me a beira de um surto.
– Prefiro ir para casa, amor.
– Por quê? – ele me encarou invocado – Está certo, então passamos por lá rapidamente.
– Não quero ir, Nando – declarei obstinada.
– É rápido, Pauline! Puxa, é só para buscar a merda de um CD!
Fernando estava bravo. Ou melhor, lançando chamas e faíscas pelos olhos quando se dirigia a mim.
– Não acho que seus pais queiram me conhecer!
Em segundos estávamos aos berros dentro do carro.
– De onde você tirou isto?
– Porque eu sou diferente de Raquel! Eles devem achar que você está saindo com uma mulher estabilizada na vida, com um futuro garantido, com grana na conta corrente! E não uma pé rapada que não tem onde cair morta e está trabalhando de graça para não perder o futuro emprego!
Ele bufou.
– Não acredito que escutei isto da sua boca, Pauline.
Fiquei muda. Arrependi-me imediatamente de ter exposto todo o meu nível de inferioridade perante ele. Burrice total.
– Meus pais vieram de baixo – continuou ele friamente – Não admito escutar você dizer tanta merda.
– Não quero ir, Nando – repeti com os olhos esbugalhados. A fúria dele me inibia de tentar argumentar qualquer outra coisa que fosse para a minha defesa – Eu quero ir para casa...

Eu me referia como “casa” o apartamento dele. Porém, possesso, Nando fez uma manobra brusca com o carro e me levou, calado, até o meu prédio. Quando ele freou bruscamente na frente da minha casa, eu o encarei desesperada para tentar consertar toda a porcaria que eu havia feito. Entretanto, ele olhava para o outro lado, com as mãos crispadas ao volante, apenas esperando que eu resolvesse cair fora.

Não tive coragem de dizer nada, embora mil palavras estivessem soltas dentro da minha boca. Saí do carro, louca de vontade de chorar e ele arrancou em seguida, cantando pneu, fazendo a festa de uns garotos que brincavam na calçada e me fazendo morrer de vergonha. Ignorei o porteiro que me olhava com curiosidade e me joguei escada acima, desalentada. Abri a porta do apartamento já aos prantos e me atirei na cama, onde chorei sem parar o dia inteiro. Da Rafa nem sinal. Até era melhor, para que eu pudesse sofrer sem ninguém ficar perguntando o motivo. Fiquei sozinha o dia inteiro e a noite também. Talvez fosse aquele meu destino.
           
Solidão.


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