Creio
que Rafa imaginou que eu estivesse à beira da morte. Tentei dizer que eu apenas
precisava do Nando, mas era esforço demais. Sem perder tempo, ela molhou uma
toalha e começou a passar no meu rosto trazendo-me certo alívio. Assustada ela
levantou minha cabeça, tocando com os dedos todo o meu couro cabeludo.
−
Você se feriu quando desmaiou? Sua cabeça está doendo? – ela perguntou em
pânico.
−
Eu não caí – consegui dizer – Só me deitei… no chão porque… porque é difícil
demais… voltar para minha cama.
−
Mas o que diabos você comeu? – berrou ela – Você simplesmente murchou!
Guto
finalmente chegou e Rafa correu
para abrir a porta. O zelador veio junto, achando que alguém estivesse prestes
a morrer. Juntos, o homem e o meu cunhado me puseram em pé. Entretanto, eu
estava tão leve que até mesmo Rafa podia comigo.
−
O que aconteceu, afinal? – perguntou Guto, segurando-me de um lado e o zelador
do outro.
−
Ela comeu um troço estragado, só pode ser isto! Eu tive um pressentimento…
larguei tudo e vim para cá. Encontrei a Paulinha estirada no piso, parecia
morta. Guto, ela está ficando verde!
Verde
e estonteada, era assim que eu me sentia. A última das mulheres, a mais
desgraçada. Rafa apareceu com um saco para que eu vomitasse dentro se fosse o
caso. Mas eu já tinha vomitado tudo que podia. Eu me sentia uma boneca de pano
sendo carregada. Fui colocada meio sem jeito no banco do carona. Minha irmã
passou o cinto de segurança em mim e Guto se tocou para o hospital mais
próximo, fazendo curvas e acelerando como se eu estivesse parindo gêmeos.
Quando paramos em frente ao setor de emergência, puseram-me imediatamente em
uma maca e me aplicaram soro. Guto ficou comigo, enquanto Rafaela ia até a
recepção fornecer meus dados.
−
Você quer que eu chame o Nando?
A
enfermeira verificava minha pressão que subitamente deve ter se elevado a
níveis consideráveis. Encarei meu cunhado e respondi fracamente:
−
Não.
−
Mas ele tem que saber que você está mal.
−
O Nando… nem se importa…
−
Isto é o que você acha.
−
Não quero.
Rafaela
apareceu quinze minutos depois. Ninguém podia prever que horário eu iria sair
de lá. Ouvi nitidamente Guto comentar com ela:
−
O Nando tem que saber.
−
Eles estão brigados.
−
Acho que ele tem que saber – insistiu Guto.
Eu
entreabri os olhos e repeti:
−
Não
−
Você não se sentiria melhor com ele aqui ao seu lado? – murmurou Rafaela.
Claro
que sim. Tenho certeza de que tudo ficaria muito melhor se Nando estivesse
comigo.
−
Não.
−
Deixe que eu ligue...
−
Ele não… pode ver você… esqueça…
Os
dois pararam de falar no assunto e eu cochilei. Não percebi quando Rafa se
afastou. De repente escutei a voz dela dizendo:
−
O Nando está vindo para cá.
Abri
os olhos tensa e encarei os dois. O enjoo voltou.
−
O que você…
−
Peguei o seu celular e liguei para ele sim – confirmou Rafaela – E ele ficou
morto de preocupação, está abandonado uma reunião e vindo para cá.
Meu
mundo ficou bem melhor com aquela perspectiva. Nando me amava. Ele estava vindo
para ficar comigo. O pesadelo estava chegando ao fim. Rafaela olhou para Guto e
comentou:
−
Não posso ficar pelos motivos que você já sabe. Largue tudo assim que ele
chegar.
E
minha irmã desapareceu evitando assim algum reencontro trágico. Dei outra
cochilada e quando voltei a abrir os olhos dei de cara com o Nando. A expressão
dele estava muito assustada. Sua mão quente acariciava meu rosto frio. E quando
eu percebi já estava chorando. Que mico…
−
Nando… Nando…
−
Meu amor, não fique assim. Acalme-se, eu estou aqui agora.
Era
tudo o que eu precisava ouvir. Minha cura se encontrava nas palavras e na
presença do Nando ao meu lado. Meu mal estar ainda continuava, porém eu sabia
que por pouco tempo.
−
E o banco?
−
Não vou voltar até você sair daqui – garantiu ele – O que aconteceu, Pauline?
Levei um choque quando sua irmã me ligou. Achei que fosse você e de repente ela
me diz que encontrou você quase morta, desmaiada no banheiro. O que houve?
“Falta
de você”.
−
Não desmaiei… só não tive forças para voltar para o meu quarto depois de tudo o
que vomitei.
−
Você está meio cinza – disse ele acariciando minha testa – Quer água?
−
Mais tarde… − murmurei.
Fiz
uma pausa e confessei:
−
Estou… tão feliz por você… estar aqui.
−
Deviam ter me ligado antes.
−
Eu não quis.
−
Achou que fosse me incomodar? Assim como no lance do seu pai?
−
Não… eu nem sabia… não fazia mais ideia se ainda estávamos… namorando.
−
Sua boba – e ele beijou meus cabelos – Fique quietinha agora.
E
eu fiquei quietinha mesmo, mas meus pensamentos estavam a mil por hora. O que
Nando faria se naquele momento eu revelasse quem era de verdade? Será que ele
teria coragem de me largar no hospital, fraca, atirada em uma cama? Talvez não,
dada a atenção que ele me dispensava. Nem nos meus melhores sonhos eu poderia
imaginar que o Nando abriria mão do seu precioso
e corrido tempo para vir ficar comigo. Era sinal de que ele me amava.
Até quando? Até Deus permitir.
E
tudo aquilo que Rafa tinha me jogado na cara martelava na minha cabeça. Sei lá,
tive a impressão de que algo não fôra dito durante a nossa discussão e isso teria que ser esclarecido em
breve. De preferência, assim que eu saísse daquele maldito hospital.
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