sábado, 13 de outubro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 52)


Creio que Rafa imaginou que eu estivesse à beira da morte. Tentei dizer que eu apenas precisava do Nando, mas era esforço demais. Sem perder tempo, ela molhou uma toalha e começou a passar no meu rosto trazendo-me certo alívio. Assustada ela levantou minha cabeça, tocando com os dedos todo o meu couro cabeludo.
− Você se feriu quando desmaiou? Sua cabeça está doendo? – ela perguntou em pânico.
− Eu não caí – consegui dizer – Só me deitei… no chão porque… porque é difícil demais… voltar para minha cama.
− Mas o que diabos você comeu? – berrou ela – Você simplesmente murchou!
Guto finalmente chegou e Rafa correu para abrir a porta. O zelador veio junto, achando que alguém estivesse prestes a morrer. Juntos, o homem e o meu cunhado me puseram em pé. Entretanto, eu estava tão leve que até mesmo Rafa podia comigo.
− O que aconteceu, afinal? – perguntou Guto, segurando-me de um lado e o zelador do outro.
− Ela comeu um troço estragado, só pode ser isto! Eu tive um pressentimento… larguei tudo e vim para cá. Encontrei a Paulinha estirada no piso, parecia morta. Guto, ela está ficando verde!
Verde e estonteada, era assim que eu me sentia. A última das mulheres, a mais desgraçada. Rafa apareceu com um saco para que eu vomitasse dentro se fosse o caso. Mas eu já tinha vomitado tudo que podia. Eu me sentia uma boneca de pano sendo carregada. Fui colocada meio sem jeito no banco do carona. Minha irmã passou o cinto de segurança em mim e Guto se tocou para o hospital mais próximo, fazendo curvas e acelerando como se eu estivesse parindo gêmeos. Quando paramos em frente ao setor de emergência, puseram-me imediatamente em uma maca e me aplicaram soro. Guto ficou comigo, enquanto Rafaela ia até a recepção fornecer meus dados.
− Você quer que eu chame o Nando?
A enfermeira verificava minha pressão que subitamente deve ter se elevado a níveis consideráveis. Encarei meu cunhado e respondi fracamente:
− Não.
− Mas ele tem que saber que você está mal.
− O Nando… nem se importa…
− Isto é o que você acha.
− Não quero.
Rafaela apareceu quinze minutos depois. Ninguém podia prever que horário eu iria sair de lá. Ouvi nitidamente Guto comentar com ela:
− O Nando tem que saber.
− Eles estão brigados.
− Acho que ele tem que saber – insistiu Guto.
Eu entreabri os olhos e repeti:
− Não
− Você não se sentiria melhor com ele aqui ao seu lado? – murmurou Rafaela.
Claro que sim. Tenho certeza de que tudo ficaria muito melhor se Nando estivesse comigo.
− Não.
− Deixe que eu ligue...
− Ele não… pode ver você… esqueça…
Os dois pararam de falar no assunto e eu cochilei. Não percebi quando Rafa se afastou. De repente escutei a voz dela dizendo:
− O Nando está vindo para cá.
Abri os olhos tensa e encarei os dois. O enjoo voltou.
− O que você…
− Peguei o seu celular e liguei para ele sim – confirmou Rafaela – E ele ficou morto de preocupação, está abandonado uma reunião e vindo para cá.
Meu mundo ficou bem melhor com aquela perspectiva. Nando me amava. Ele estava vindo para ficar comigo. O pesadelo estava chegando ao fim. Rafaela olhou para Guto e comentou:
− Não posso ficar pelos motivos que você já sabe. Largue tudo assim que ele chegar.
E minha irmã desapareceu evitando assim algum reencontro trágico. Dei outra cochilada e quando voltei a abrir os olhos dei de cara com o Nando. A expressão dele estava muito assustada. Sua mão quente acariciava meu rosto frio. E quando eu percebi já estava chorando. Que mico…
− Nando… Nando…
− Meu amor, não fique assim. Acalme-se, eu estou aqui agora.
Era tudo o que eu precisava ouvir. Minha cura se encontrava nas palavras e na presença do Nando ao meu lado. Meu mal estar ainda continuava, porém eu sabia que por pouco tempo.
− E o banco?
− Não vou voltar até você sair daqui – garantiu ele – O que aconteceu, Pauline? Levei um choque quando sua irmã me ligou. Achei que fosse você e de repente ela me diz que encontrou você quase morta, desmaiada no banheiro. O que houve?
“Falta de você”.
− Não desmaiei… só não tive forças para voltar para o meu quarto depois de tudo o que vomitei.
− Você está meio cinza – disse ele acariciando minha testa – Quer água?
− Mais tarde… − murmurei.
Fiz uma pausa e confessei:
− Estou… tão feliz por você… estar aqui.
− Deviam ter me ligado antes.
− Eu não quis.
− Achou que fosse me incomodar? Assim como no lance do seu pai?
− Não… eu nem sabia… não fazia mais ideia se ainda estávamos… namorando.
− Sua boba – e ele beijou meus cabelos – Fique quietinha agora.
E eu fiquei quietinha mesmo, mas meus pensamentos estavam a mil por hora. O que Nando faria se naquele momento eu revelasse quem era de verdade? Será que ele teria coragem de me largar no hospital, fraca, atirada em uma cama? Talvez não, dada a atenção que ele me dispensava. Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que o Nando abriria mão do seu precioso e corrido tempo para vir ficar comigo. Era sinal de que ele me amava. Até quando? Até Deus permitir.
E tudo aquilo que Rafa tinha me jogado na cara martelava na minha cabeça. Sei lá, tive a impressão de que algo não fôra dito durante a nossa discussão e isso teria que ser esclarecido em breve. De preferência, assim que eu saísse daquele maldito hospital.


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