terça-feira, 17 de abril de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 9)



Mandei uma mensagem curtinha para minha irmã dizendo que eu estava acompanhada. Depois desliguei o celular enquanto tomávamos sorvete sentados em um banco no calçadão da praia. Eu me sentia no céu.

− Você também se queimou – observei.

Nando olhou para as suas mãos e comentou:

− Não está me incomodando. De certa forma me acostumei a torrar no sol.

Isto eu já sabia. Ele tinha sido surfista quando adolescente. Vi umas fotos dele no Facebook, agarrado em uma prancha.

− Você sempre vem para a praia? Quer dizer, férias, feriados, fim de semana...
− Eu fui surfista – respondeu o Nando sorrindo para mim. – Quase me mudei para cá. E então passei na faculdade e eu fui obrigado a estudar quando me dei conta que o surf não me deixaria rico.
− Eu fiquei muito tempo sem ver o mar.

Arrependi−me imediatamente de ter feito aquele comentário. Depois que meu pai foi roubado pelo meu tio, além de nos estabelecermos no interior, não tínhamos sequer dinheiro para passar férias no litoral e nem em lugar nenhum.

− Por quê?

 E agora? Tentei não mentir muito.

− Porque meu pai passou por muitas dificuldades financeiras. Faz pouco tempo que vim do interior. E ainda não tinha vindo para a praia. Resumindo, eu já nem sabia mais o que era praia até ontem à tarde. Só lembrava o meu medo de onda.
− Seus pais ficaram no interior?

Mais perguntas. Ô criatura curiosa! Eu tinha medo daquilo.

− Ficaram. Eu moro aqui com a minha irmã desde que passei na faculdade de Design.

Antes que ele resolvesse investigar mais coisas sobre a minha vida, eu perguntei:

− E você?
− O que você quer saber?
− Quero saber mais de você.
− Tipo o quê? 
− Tipo onde você mora, onde trabalha...

Achei que ele se importaria em contar. Mas pelo contrário. Nando decidiu abrir a sua vida. Muitas coisas que ele falou obviamente eu já sabia. Meus tios ainda moravam na mesma casa com o meu primo mais novo. O outro irmão do Nando, o mais velho, morava com a namorada. Contou do trabalho no banco, do gosto pela música, das viagens que fez. Em nenhum momento mencionou que tinha uma namorada.

Não pude me conter.

− E sua namorada?

O Nando me olhou com uma cara meio estranha.

− Como?
− Perguntei sobre a sua namorada. Em nenhum momento você falou nela.

O comportamento dele mudou. Meio desconfortável ele respondeu:

− Ela não é minha namorada. É minha noiva.

Fiquei muda, engolindo o sorvete já sem vontade.

− Como você sabe que tenho alguém?
− Não sei de nada – menti. – Mas um homem como você dificilmente estaria sozinho.

Foi a vez de ele ficar quieto. Após algum tempo remexendo no sorvete e olhando para frente, Nando revelou subitamente:

− Eu não ía ligar para você.

O sorvete ficou atravessado na minha garganta. Não tive coragem de olhar para ele.

− Por que ligou, então?
− Porque vi você no centro.

Não soube o que responder. Depois de uns dez segundos, o Nando continuou:

− Resolvi me dar uma chance.
− Chance para quê? – perguntei tensa.
− Eu não amo minha noiva – ele respondeu depois de algum tempo.

Deixei o ar sair lentamente dos meus pulmões. Será que aquela frase significava alguma coisa a meu favor?

− Por que está com ela? Por conveniência?         

Meu tom de voz saiu meio seco. O Nando suspirou e respondeu:

− No início até que eu gostava dela. Ela é uma mulher inteligente, bonita, mas… muito superficial. Os pais dela são amigos dos meus. O sonho deles é que a gente case, tenha filhos... Estou sendo pressionado a marcar a data do casamento. Enfim, eu e a Raquel não temos nada a ver.

Data do casamento. Horrível isto. Não contava com esta possibilidade.

− Bem – falei, cautelosamente, – eu sempre acho que a gente deve ir em busca da própria felicidade. Pelo menos é isto que eu faço diariamente.

De novo o silêncio por parte dele. E meu sorvete estava com gosto de areia.

− Eu vim para cá neste ano novo – contou o Nando, ainda mexendo no sorvete com a colherinha – para tentar encontrar alguma saída.
− Encontrou?
− Bom, encontrei você.


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