domingo, 8 de abril de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP 6)


            Perdemos as horas, os minutos e os segundos. Perdi também o medo das ondas que teimavam em me cobrir inteira. Nos braços do Nando eu me sentia a mulher mais segura do mundo. A praia começou a encher lentamente. Não que eu me importasse com alguma coisa além de mim e dele. Também não me importei com o sol de rachar. Nem me dei conta que minha pele já estava começando a ficar queimada além da conta.

Comecei a sentir uma ardência nos ombros e acabei gemendo sem querer. Nando perguntou:

 O que foi? Machuquei você?

Nós estávamos ainda no mar, mas não tão fundo agora. Meus cabelos estavam duros de sal e quem se importava? Eu estava curada do pânico, mas com os ombros e as costas começando a ficar bem vermelhos. Imaginei como devia estar meu rosto. Se eu não procurasse sombra logo, poderia pegar uma enorme insolação.

 Acho que exagerei – constatei ligeiramente assustada. – Estou ficando um pimentão.

O Nando se afastou um pouco e murmurou surpreso:

 Puxa... Como fomos deixar que isto acontecesse? Vou levar você para casa agora.

Tive vontade de berrar que não. Eu não queria ir para casa. Ele me deixaria na porta do prédio e… e depois? O que seria de nós? O que seria de mim?

Fui saindo do mar puxada pelo Nando. Eu gostaria que ele colocasse o braço por cima dos meus ombros e meu primo leu meus pensamentos.

 Nem vou encostar muito em você.
 Juro que não vou me importar – retruquei tentando fazer graça. Na verdade, eu estava novamente com vontade de chorar.
 Está doendo? Queimando? Ardendo? Qualquer coisa do tipo? – ele perguntou com seu lindo sorriso e minhas pernas tremeram feito vara verde.
 Ainda não.
 Verdade? Até suas bochechas estão vermelhas.
 Está tudo bem, juro. Pelo menos ainda.

Indiquei a direção do prédio em que eu estava passando aqueles dias na praia e Nando foi me levando para casa, sempre segurando minha mão. Quase implorei a ele que me abraçasse. Não importava que minhas costas, meus ombros, meu rosto ardessem. Eu apenas ansiava pelo contato da pele dele com a minha. Temia que aqueles fossem meus últimos momentos com o Nando. À medida que nos aproximávamos do prédio, meu coração se apertava. Eu não podia chorar. Não podia passar um vexame daquelas proporções. Rezei para que a Rafa não estivesse pendurada na janela. Ela poderia reconhecer o Nando.

Para minha infelicidade, o momento que eu mais temia havia chegado. Ficamos eu e meu primo, parados ao lado do jardim do edifício, de mão dadas, frente a frente. Seria aquela uma despedida ou um até breve? Meu coração saltava dentro do peito e uma náusea começou a tomar conta de mim. Não! Eu não iria vomitar em cima dele!

 Bem – disse ele sorrindo. – Foi bem legal conhecer você.

Eu também sorri, quase chorando. Ele não iria pedir meu celular?

 É… passei momentos bem agradáveis com você.
 Bem agradáveis? Eu sou o responsável por ter livrado você do pânico do mar!

Ri de novo, como se aquela conversa fosse bem natural. Minha felicidade dependia das palavras seguintes.

 Ora, talvez meu pânico não fosse tão grande assim.

Ele deu uma risada e se abaixou um pouco para me beijar. Depois disse:

 Cuide-se. Passe alguma coisa na pele. Acho que este vermelhão vai começar a incomodar você logo, logo.

O Nando estava prestes a cair fora. E eu a morrer. Não estava com a menor pinta de que iria pegar meu celular ou dizer alguma coisa do tipo “quando nos veremos outra vez?” A mão dele, inclusive, já tinha soltado a minha. Então, antes que eu chorasse, perguntei de uma vez só:

 Você não quer o número do meu celular?
 Você quer me dar? – ele perguntou parecendo meio surpreso.
 Tem onde anotar?

Eu estava ansiosa. Claro que ele não tinha onde anotar.

 Na mente – respondeu meu primo. – Diga qual é.

Eu repeti três vezes o meu número. Na terceira vez ele disse certinho todos os oito algarismos.

 Você vai esquecer.
 Não vou, não. Sou bom em decorar números – garantiu Nando.
 Então repita.

Ele repetiu sem errar nenhum número.

 Está certo – eu não tinha mais como segurá-lo. – Vou ficar esperando que ele toque.

Sem dizer mais nada, o Nando se aproximou de mim e me beijou. Depois,

deu as costas e foi embora.

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