Como eu suspeitava
o Guto praticamente se mudou para o nosso apartamento. Mesmo passando as férias
na sua bela cobertura, na companhia dos pais e com toda a mordomia que poderia
desfrutar, o namorado da Rafa pareceu se adaptar bem a nossa bagunça e gritaria.
O quarto ficou só para mim. Rafa, para não deixar o amado dormir sozinho no
sofá da sala, resolveu levar o colchão para lá. Por fim, acabei me acostumando com
aquele rapaz esquisito, que em alguns momentos parecia ter talento para a
comédia e em outras vezes ficava em um silêncio de doer. Minha irmã falava por
ele. O cara não parecia se importar com as loucuras da Rafa e suportava bem
todo o nosso papo feminino. Algumas vezes ele ousou dar seu palpite sobre minha
relação – ou seja lá o que fosse – com o Nando. Felizmente era sempre a meu
favor. Guto achava que a gente ía se casar. Dizia que podia ver o futuro em
algumas situações e o meu estava claramente definido. Evidentemente que a minha
irmã debochava das supostas previsões dele. Eu não. Quando eu flagrava Guto me
encarando e já habituada com o jeitão do meu cunhado e sem mais vergonha
nenhuma de falar sobre todo e qualquer assunto na frente dele, perguntava:
− O que você está
enxergando?
− Só coisas boas –
ele respondia sempre.
− Se você visualizar
alguma coisa ruim... Vai me dizer? – perguntei certa vez.
− Claro.
− Então tá.
Assim foi minha
temporada de dez dias na praia. De espera e tensão. Eu precisava urgente de um
celular novo que tivesse internet. Precisava de grana também para comprar um. Apenas
uma vez tive oportunidade de ir a uma lan house. Eu, Rafa e Guto e mais as
meninas não nos desgrudávamos nunca. Bem que eu tentei me desvencilhar deles
várias vezes para correr até um computador e futricar no Facebook do Nando.
Quando a ocasião surgiu, não pensei duas vezes. Era um início de tarde
ensolarado. Com as mãos trêmulas, digitei meu login e logo estava na página do
Nando.
Fiquei frustrada e
triste. Pelos recados, eu percebi que ele já havia voltado de São Paulo. E
ainda estava noivo, com direito a recadinho dela, aquela desgraçada. Não fiquei
nem dois minutos na lan. Saí com vontade de chutar a primeira lata de lixo que
vi pela frente. Para espairecer e não ter que topar com a cara da Rafa (ela
logo saberia por que eu estava com aquela cara de bunda), fui caminhar sozinha
no calçadão. Somente não chorei pelo simples motivo que havia pessoas a minha
volta. Fiquei firme, segurando as lágrimas. Por que ele não tinha me ligado?
Um toque no meu
celular indicou que uma mensagem havia chegado. Devia ser a Rafa, especulando
saber por onde eu tinha me enfiado. De mau humor, peguei o celular na minha
bolsa. Para meu espanto, não era a Rafa. E eu não conhecia aquele número. Só
podia ser engano.
“Torrando muito no
sol? Beijos, Nando”.
Minhas pernas
tremeram significativamente e todas as esperanças perdidas voltaram. Sentei no
primeiro banquinho que encontrei para me acalmar, sem parar de olhar para a
mensagem dele. Glória total. O Nando tinha se lembrado de mim, chegando a se
prestar a me mandar uma mensagem! Agradeci aos céus emocionada. Mas não pude
curtir muito aquele momento de alegria. De repente ouvi a voz de Rafaela
berrando:
− Ela está lá! Ei,
Paulinha!
Olhei para a minha
direita e vi toda a turma me acenando. Não consegui ficar sem dividir minha
felicidade. Levantei e me aproximei deles empolgada.
− Adivinhem quem me
mandou uma mensagem?
As meninas
festejaram e Guto chegou a comentar:
− Eu não disse?
A Rafa perguntou:
− E o que você
respondeu?
− Nada, ainda –
confessei. – Fiquei tão nervosa que nem pensei em alguma coisa espirituosa.
− Diga que você
está morrendo de tesão – sugeriu minha irmã, rindo da cara de espanto que eu
fiz.
− Com isto eu o
afastaria na mesma hora – respondi.
− Ela tem razão –
concordou Guto. – Mande beijos para ele e está bom assim, mesmo eu não sabendo
o que ele escreveu para você.
− Perguntou se eu
estava torrando muito no sol.
Para variar,
Rafaela esculhambou:
− Que mensagenzinha
sem graça.
− Mas eu gostei.
Ele se lembrou de mim. Podia simplesmente não ter enviado mensagem nenhuma.
Meu celular tocou e
todos ficamos em silêncio. Será? Será?
Voltei para a
realidade. Era minha mãe.
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