terça-feira, 24 de abril de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 12)


Como eu suspeitava o Guto praticamente se mudou para o nosso apartamento. Mesmo passando as férias na sua bela cobertura, na companhia dos pais e com toda a mordomia que poderia desfrutar, o namorado da Rafa pareceu se adaptar bem a nossa bagunça e gritaria. O quarto ficou só para mim. Rafa, para não deixar o amado dormir sozinho no sofá da sala, resolveu levar o colchão para lá. Por fim, acabei me acostumando com aquele rapaz esquisito, que em alguns momentos parecia ter talento para a comédia e em outras vezes ficava em um silêncio de doer. Minha irmã falava por ele. O cara não parecia se importar com as loucuras da Rafa e suportava bem todo o nosso papo feminino. Algumas vezes ele ousou dar seu palpite sobre minha relação – ou seja lá o que fosse – com o Nando. Felizmente era sempre a meu favor. Guto achava que a gente ía se casar. Dizia que podia ver o futuro em algumas situações e o meu estava claramente definido. Evidentemente que a minha irmã debochava das supostas previsões dele. Eu não. Quando eu flagrava Guto me encarando e já habituada com o jeitão do meu cunhado e sem mais vergonha nenhuma de falar sobre todo e qualquer assunto na frente dele, perguntava:

− O que você está enxergando?
− Só coisas boas – ele respondia sempre.
− Se você visualizar alguma coisa ruim... Vai me dizer? – perguntei certa vez.
− Claro.
− Então tá.

Assim foi minha temporada de dez dias na praia. De espera e tensão. Eu precisava urgente de um celular novo que tivesse internet. Precisava de grana também para comprar um. Apenas uma vez tive oportunidade de ir a uma lan house. Eu, Rafa e Guto e mais as meninas não nos desgrudávamos nunca. Bem que eu tentei me desvencilhar deles várias vezes para correr até um computador e futricar no Facebook do Nando. Quando a ocasião surgiu, não pensei duas vezes. Era um início de tarde ensolarado. Com as mãos trêmulas, digitei meu login e logo estava na página do Nando.

Fiquei frustrada e triste. Pelos recados, eu percebi que ele já havia voltado de São Paulo. E ainda estava noivo, com direito a recadinho dela, aquela desgraçada. Não fiquei nem dois minutos na lan. Saí com vontade de chutar a primeira lata de lixo que vi pela frente. Para espairecer e não ter que topar com a cara da Rafa (ela logo saberia por que eu estava com aquela cara de bunda), fui caminhar sozinha no calçadão. Somente não chorei pelo simples motivo que havia pessoas a minha volta. Fiquei firme, segurando as lágrimas. Por que ele não tinha me ligado?

Um toque no meu celular indicou que uma mensagem havia chegado. Devia ser a Rafa, especulando saber por onde eu tinha me enfiado. De mau humor, peguei o celular na minha bolsa. Para meu espanto, não era a Rafa. E eu não conhecia aquele número. Só podia ser engano.

“Torrando muito no sol? Beijos, Nando”.

Minhas pernas tremeram significativamente e todas as esperanças perdidas voltaram. Sentei no primeiro banquinho que encontrei para me acalmar, sem parar de olhar para a mensagem dele. Glória total. O Nando tinha se lembrado de mim, chegando a se prestar a me mandar uma mensagem! Agradeci aos céus emocionada. Mas não pude curtir muito aquele momento de alegria. De repente ouvi a voz de Rafaela berrando:

− Ela está lá! Ei, Paulinha!

Olhei para a minha direita e vi toda a turma me acenando. Não consegui ficar sem dividir minha felicidade. Levantei e me aproximei deles empolgada.

− Adivinhem quem me mandou uma mensagem?

As meninas festejaram e Guto chegou a comentar:

− Eu não disse?

A Rafa perguntou:

− E o que você respondeu?
− Nada, ainda – confessei. – Fiquei tão nervosa que nem pensei em alguma coisa espirituosa.
− Diga que você está morrendo de tesão – sugeriu minha irmã, rindo da cara de espanto que eu fiz.
− Com isto eu o afastaria na mesma hora – respondi.
− Ela tem razão – concordou Guto. – Mande beijos para ele e está bom assim, mesmo eu não sabendo o que ele escreveu para você.
− Perguntou se eu estava torrando muito no sol.

Para variar, Rafaela esculhambou:

− Que mensagenzinha sem graça.

− Mas eu gostei. Ele se lembrou de mim. Podia simplesmente não ter enviado mensagem nenhuma.

Meu celular tocou e todos ficamos em silêncio. Será? Será?

Voltei para a realidade. Era minha mãe.


                                    

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