Acordei
com o sol na minha cara. Sentei de um pulo sem saber onde eu estava. Eu tinha
areia por tudo. No rosto, nos cabelos, até mesmo na língua. Enquanto minha
cabeça levemente girava, me deparei com o Nando dormindo tão relaxado que
parecia que ele estava em sua própria cama.
Deviam
ser mais ou menos sete horas da manhã. A praia ainda estava deserta, com alguns
resquícios deixados pela festa de ano novo. Algumas pessoas iam e vinham, nos
ignorando completamente. Ainda bem. Meu estado deveria estar lamentável.
Lembrei
que Rafaela deveria estar preocupada, pois eu simplesmente desaparecera em
plena noite. Entretanto, a julgar pela quantidade de álcool que eu a vira
bebendo, era bem possível que ela também estivesse atirada em algum canteiro
próximo.
Olhei
novamente para o Nando, imaginando o que eu diria quando ele finalmente
acordasse. Meu coração apertou. Ele era lindo. Passei tantos anos fantasiando
que o beijava e tocava e agora era quase inacreditável que isto já tinha
acontecido. Mas e depois que ele acordasse? O que Fernando teria para me dizer?
Os
amigos dele já tinham ido embora. Estávamos apenas só nós dois. Ele tinha tudo
para me dar um bom dia e um pontapé na bunda. Não, eu não iria suportar começar
o ano desta forma bizarra. Se o primeiro dia começasse assim, o que seriam os
próximos 364? O horror, o horror.
− Bom
dia.
Dei um
pulo e me virei para o Nando. Ele estava se espreguiçando, também com areia por
tudo. Com os olhos semicerrados, me perguntou:
− O que
foi?
− Como?
− Por
que você está me olhando assim?
− De que
jeito estou olhando você? – perguntei espantada.
− Com
cara de susto.
Dizendo
isto ele sentou para em seguida se levantar. Pronto, pensei eu, apavorada.
Agora o Nando vai me dar bom dia e um pé na bunda e…
− Vou
buscar uma água ali no quiosque. Você quer?
Só
balancei a cabeça fazendo que sim, com um aperto no peito. Aquela era a senha.
Uma vez não disseram que iam comprar cigarro na esquina e sumiram? A versão
comigo seria uma garrafa de água.
− Já
volto.
Nem
respondi. Achei que fosse chorar enquanto eu o observava caminhando lentamente,
a barra das calças brancas arrastando pela areia e a camisa amassada cobrindo o
peito. Não poderia haver homem mais charmoso na face da terra e ele tinha sido
meu por tão pouco tempo. Não consegui segurar as lágrimas. Ele foi se afastando
de mim, possivelmente para sempre. Eu não podia deixá-lo ir embora! Será que
tantos anos de caçada se resumiriam somente em algumas poucas horas? Não! Não!
Não!
Fiquei
de pé e o movimento foi tão rápido que eu quase caí. Para minha surpresa então,
me deparei com o Nando na frente do quiosque abrindo a carteira e pagando as duas
garrafinhas de água. Depois ele se virou e veio na minha direção com aquele
andar arrastado. Discretamente enxuguei minhas lágrimas, amaldiçoando a mim
mesma por ser tão emotiva. À medida que se aproximava, percebi que o Nando me
olhava de um jeito estranho. Fiquei constrangida e fingi que arrumava o cabelo.
Quando
ele me entregou a garrafinha, perguntou casualmente:
− Achou
que eu fosse fugir?
− Não –
respondi fingindo observar o mar.
Fernando
ficou em silêncio por alguns segundos parado do meu lado, mas sem me encostar.
A presença dele era como um circuito elétrico percorrendo meu corpo.
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