Abri a
porta do apartamento e me surpreendi quando encontrei movimento em casa apesar
de ser ainda cedo. Ouvi a voz de Rafa na cozinha e fui até lá. Para minha
surpresa, deparei–me com um rapaz sentando junto à mesa saboreando um pedaço de
pão. O rosto dele não me era estranho.
– Bom
dia – cumprimentei sem entender nada. Minha irmã estava em frente ao fogão,
esperando o leite ferver.
– Bom
dia – respondeu o cara.
– Oi,
Paulinha – retrucou por sua vez minha irmã com a expressão contente. – Este é o
Guto. Lembra dele?
– Oi,
Guto – disse eu mecanicamente, me sentindo pouco a vontade pelo fato de minha
irmã ter posto um homem dentro de um apartamento que só tinha mulheres. – Não
me lembro de você.
– Da
faculdade – esclareceu Guto tentando ser simpático. – Curso Ciências da
Computação.
Estava
explicada a cara de nerd. Ele simplesmente não tinha nada a ver com a louca da
Rafaela.
– Ah…
Acho que já nos cruzamos por lá.
Eu tentava
situá–lo em algum ponto da minha mente. Mas eu só pensava no Nando.
–
Várias vezes – confirmou meu novo cunhado.
Servindo
Guto de leite, Rafa perguntou curiosa:
– E
então? A noite rendeu?
–
Muito – eu era só sorrisos.
– Foi
com aquele cara? O do reveillon?
– Sim,
graças a Deus.
Abri a
geladeira e fui me servir de suco. Sem me dar chance para respirar, Rafa foi em
frente:
– E
cadê ele?
– Foi
para casa. Ele tem que viajar hoje à noite para São Paulo.
–
Puxa, que azar – comentou Guto.
Rafaela
sentou ao lado do namorado e perguntou:
– Em
pleno feriadão?
Eu não
estava gostando muito daquele interrogatório. E muito menos do tal do Guto
estar ficando por dentro da minha vida amorosa.
– Ele
é advogado de um banco. Há um problema a ser resolvido na matriz e o diretor o
escalou para resolver.
– E
quando ele volta?
– Acho
que daqui a uma semana – disse bebendo o suco devagarzinho, só pensando nele.
– E
este tal de Nando vai te ligar?
Lembrei-me
da noiva ou quase ex–noiva e respondi:
–
Disse que vai.
– E
você acreditou?
Era
duro de aguentar a expressão de descrédito da Rafa.
–
Acreditei.
– Pois
eu não acreditaria.
– Ele
disse de livre e espontânea vontade que me ligaria. Não fui eu que pedi.
Minha
voz saiu tão dura e seca que os dois me encararam surpresos e não falaram mais
nada. Bebi o resto do suco quase de um gole só e saí da cozinha, pisando duro.
Entrei no meu quarto imaginando se agora teria que dividir minha cama com o
Guto também. Só quando me atirei no colchão é que me dei conta do quanto estava
cansada. Dormi em menos de dez segundos e Nando foi meu último pensamento. E o
primeiro quando me acordei, horas depois.
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