quarta-feira, 17 de outubro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 53)


Deram-me alta perto das vinte horas. Estava melhor, sem tonturas pelo menos. Apenas fraca e com fome. Como esperava, o Nando perguntou se eu queria ir para o apartamento dele e aceitei no ato. Porém, antes eu precisava passar em minha casa e pegar uma roupa decente. Ainda pretendia trabalhar no dia seguinte, nem que estivesse morrendo. Além de tudo isso, havia minha irmã. Queria urgente ver a Rafa e confirmar se havia algo mais a ser revelado. Eu esperava ardentemente que não.

Combinei de ligar para o Nando logo que estivesse pronta. Enquanto meu namorado passava na casa de um colega para buscar um documento, eu me enchi de coragem para enfrentar Rafaela. Eu tinha quase certeza de que ela estava em casa.

E estava mesmo. Ela via televisão e mal me olhou quando abri a porta. A indiferença dela me abalou. Isso queria dizer que nossa briga não havia sido superada.
− Oi – cumprimentei sem ter nada melhor para dizer.
− Como você está? – perguntou ela sem me encarar.
− Meio fraca ainda.

Silêncio. Dei um tempo e o silêncio continuou. Fui até o quarto pegar a roupa e quando voltei para a sala carregando a mochila, Rafa perguntou arqueando uma sobrancelha:
− Você vai para o apartamento dele?
− Vou.
Ela fez uma pausa e voltou à carga:
− Ele deve amar mesmo você. Muito.
Gostei demais de ouvir aquilo.
− Por quê?
− Porque ele ficou louco quando eu disse que tinha encontrado você no banheiro desacordada. Percebi que nosso primo ficou alterado quando soube da notícia. E depois o Guto contou que ele simplesmente o despachou quando chegou ao hospital somente para ficar sozinho com você.
− Ele não é meu primo – cortei – É meu namorado.
Cansadamente Rafaela perguntou:
− Até quando vai levar isto?
− Até onde existir amor.
− Você não tem ideia, Paulinha, da confusão em que você está se metendo.
Comecei a me irritar.
− Me deixa, Rafaela. A vida é minha.
− Não neste caso. Seu relacionamento com nosso primo irão trazer consequências trágicas para nossa família e para a dele também.
− Eu não tenho nada a ver com rixas do passado. Eu vivo o presente e o meu futuro é com o Nando.
− Paulinha, o passado ainda não acabou. Não para nós.
− Pois bem, eu não quero saber se o tio roubou meu pai. Posso lidar com isso e, se for o caso, colocar uma pedra por cima de toda essa história.
− Nosso tio não roubou ninguém.

Aquela revelação veio bruscamente. Encarei Rafaela aturdida:
− O que você disse?
− Foi o contrário. Nosso pai tentou passar a perna no pai do Nando. Só que deu tudo errado. Para não ser preso, papai resolveu sumir e nos levou junto.
Foi como um soco no estômago. Percebi que estava branca como cera.
− Por muito pouco nosso pai não os deixou na miséria. Nosso tio ameaçou nossa família, Paulinha. Ameaçou acabar conosco. Você acha que papai queria que viéssemos estudar aqui? Ele morre de medo que a gente tope com algum deles! Por que você acha que nossa mãe entrou em depressão quando fugimos daqui? De desgosto pelo mau caratismo do papai!

Eu não queria acreditar em nada daquilo. Era chocante demais. Desde os meus seis anos eu acreditava piamente que o responsável pela nossa derrocada tinha sido meu tio. Mas não. O grande vilão era – e sempre tinha sido – o meu próprio pai.
− E o que acontece quando você vem para cá? Sai correndo atrás do seu primo. E não contente de ser apenas uma transa, você ainda pensa em casar. O que você acha que vai se passar quando o Nando descobrir sua verdadeira identidade? Você pensa que o amor de vocês sobreviverá a isso? Seguramente seu namorado vai odiá-la por ser filha do homem que quase levou a mãe dele ao suicídio e por você tê-lo trapaceado por tanto tempo.

Se Rafaela esperava que eu contra argumentasse enganou-se redondamente. Eu não tinha voz para falar uma sílaba que fosse. Meu mundo tinha caído e se eu ficasse um dia sem o Nando não sobraria pedra sobre pedra.
Meu celular tocou. Era ele. Atendi trêmula.
− Oi, amor.
Ele estranhou minha voz.
− Tudo bem?
− Tudo.
− Estou aqui embaixo.
− Vou descer já.
Saí correndo do apartamento, a verdade sobre minha família explodindo no meu cérebro. E antes que eu fechasse a porta, escutei a última praga lançada pela minha irmã.
− Não pense que eu vou ficar ao seu lado quando o castelo desmoronar.

Desci os degraus me amparando no corrimão. A discussão e o segredo revelado me abalaram tanto que quando entrei no carro minhas pernas estavam fracas, quase faltando. Nando, reparando nos meus lábios brancos, indagou preocupado:
− Você está se sentindo mal de novo?
Balancei a cabeça, fazendo que não. Respondi com dificuldade:
− Acho que é fome.

Meu amor arrancou com o carro. Era uma meia mentira. Eu sentia fome, sim. E isto era ótimo, fisicamente eu estava melhorando. Entretanto, eu não estava conseguindo assimilar as coisas horríveis que eu soubera sobre meu pai. Ele tinha tentado destruir a vida do meu tio e, por consequência, a do Nando também. Isso era simplesmente pavoroso. Eu gostaria que Rafa estivesse mentindo, mas agora muitas peças soltas começavam a se encaixar. Frases soltas no ar, gestos, atitudes, conversas em código. Era tudo verdade. Gostaria que meu pai estivesse arrependido de tudo o que causara. E será que meu tio estaria disposto a perdoar?
− Quantos reais você quer pelos seus pensamentos?


Um comentário:

  1. Caramba... que reviravolta.
    Vai ficando cada vez mais difícil Pauline poder contar a verdade a Nando. Curiosa pelos próximos capítulos.

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