segunda-feira, 22 de outubro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 55)


Estávamos no shopping sábado à tarde. Nando precisava comprar um livro jurídico e eu fui junto, claro. A livraria era imensa. Enquanto ele procurava o que queria, eu fui para o outro lado tentando achar algo do meu interesse.

Eu nunca perdia meu namorado de vista. Onde quer que eu estivesse, o Nando tinha que estar no meu campo de visão. Era uma forma de me manter tranquila. Meu maior temor era que Raquel aparecesse de repente e levasse meu namorado de mim.

Ele não se deu conta que eu não perdia seus movimentos, por mínimos que fossem. O gesto de arrumar o cabelo, folhear um livro, pegar a carteira... Nada me passava despercebido.

Muito menos atender ao celular.

Alguém tinha ligado para o Nando. Entre as estantes fiquei monitorando tudo. Será que era mulher? Pelo jeito não. Ele deu algumas risadas, falou por cinco minutos, consultou o relógio e desligou. Eu disfarcei, esperei passar um tempo e fui até ele. Nando já me esperava com a compra feita.

Saímos da livraria e eu fiquei esperando que ele me dissesse quem havia ligado. Nada. Talvez não fosse importante que eu soubesse e até acabei esquecendo o fato.

Depois do shopping, a próxima parada era o supermercado. Tudo corria normalmente, até que me dei conta que o Nando estava fazendo outro trajeto.
− Você desistiu de ir ao supermercado?
− Não – respondeu ele muito calmo e provavelmente me testando – O Ricardo está de aniversário sábado que vem e ele me ligou para que eu fosse até a sua casa buscar o convite.
Fiquei muda de terror. A tontura passou em quinze segundos. Perguntei.
− Nós… você vai subir até o apartamento dele?
− Não, ele quem irá descer.
Meu Deus. Serei reconhecida e apedrejada. Amaldiçoei-me por não estar de óculos escuros, cabelos presos, maquiada. De máscara. Respirei fundo tentando me acalmar. Não, nada disto iria acontecer. Meus temores eram todos infundados. Se Nando não sabia até então quem era eu, muito menos o irmão se flagraria também.

A tudo o que o Nando falava, eu respondia aos monossílabos. Tentei rir quando minha vontade era de chorar. Ao nos aproximarmos do prédio, Nando constatou que teria que estacionar do outro lado da rua, pois não tinha vaga em frente ao prédio do meu primo. De repente, Ricardo saiu do edifício carregando alguma coisa na mão. Ele estava igual, só tinha crescido. A cara de debochado continuava a mesma. Engoli em seco, atarantada.

Desligando o motor, Nando convidou:
− Vamos descer? Seu cunhado quer lhe conhecer.
− Não, obrigada – o medo fez com que minha voz saísse seca.
− Já vai começar, Pauline? – Nando mostrou irritação na voz.
− Ele não vai ir com a minha cara e eu fico constrangida com estas apresentações.
Nando balançou a cabeça como se eu fosse um caso perdido. Porém, não insistiu. Abriu a porta e saiu do carro, enquanto eu imaginava qual seria o próximo capítulo da minha novela de terror.

Menos de dez minutos depois o Nando voltou segurando o convite. Reparei que ele estava emburrado, mas fazendo força para se controlar.
− Apesar de você insistir em bancar o bicho do mato, meu irmão fez questão de convidar você para a festa. E faz questão de que você vá também.
Era como se a decisão já houvesse sido tomada. Eu teria que ir à festa e ponto final. Tentei ganhar tempo.
− Eu… no próximo sábado você disse? Onde vai ser?
− No Caribbean. Vão fechar a casa só para a festa do Ricardo.

Meu romance começou a fazer água, pensei. Caribbean era a casa noturna mais badalada do momento. Quem frequentava eram pessoas da alta sociedade. O Nando, por exemplo. Aquele não era um lugar onde eu pudesse frequentar e sentir-me à vontade. Mas isso não era nada. A pior parte é que a família inteira do Nando estaria lá e nós simplesmente não podíamos coabitar o mesmo teto e o mesmo espaço ao mesmo tempo.
Nando estava ligando o motor quando eu criei coragem e disse:
− Nando, eu não posso ir.
Ele me fuzilou com os olhos, furioso.
− Por quê?
A voz dele era fria como gelo e eu gelei também. Meio encolhida respondi:
− Esta casa noturna… as pessoas que vão lá… Puxa, elas não tem nada a ver comigo. Nada mesmo.
− Eu não tenho nada a ver com você? – cortou ele, aumentando o tom de voz.
− Acho que você não entendeu…
− Não, eu não entendo mesmo. Seu comportamento é algo que me confunde. Qualquer coisa que envolva a minha família ou a sua, faz com que você dispare.
Fiquei pálida enquanto Nando prosseguia implacável com a sua análise.
− O que você esconde de mim? Do que tem tanto medo?
− Nando, do que você está falando? – tentei reagir, mas sem convicção alguma – Eu só falei que não tenho condições de ir a uma festa dessas! Está além das minhas possibilidades!
− Seu problema é grana?

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Meu plano era dizer que não tinha dinheiro para comprar uma roupa legal para ir à festa. Era uma desculpa fraquinha, mas era a única que me veio naquele momento de terror.
− Como?
− Você não tem dinheiro para comprar uma roupa para ir ao aniversário do Ricardo?

Bem, ele tinha dinheiro. Muito mais do que eu pensava.
− Nando, eu não quero o seu dinheiro.
− Tudo bem, então aceite como um empréstimo.
− Eu não quero! – quase gritei histérica.
− Você quer o quê, então? – berrou ele de volta – Quer que eu abra a porta do carro para você voltar a pé para sua casa?
Ao dizer isto, o Nando escancarou a porta do carona e eu achei que seria posta para fora. Quase chorando fechei-a de novo.
− Você me magoa falando assim!
− E eu não tenho o direito de ficar magoado quando você se recusa a participar da minha vida? Ou me fecha as portas para a sua?
− Está bem, eu vou! – funguei secando as lágrimas. Depois eu daria um jeito de me escapar.
Ele arrancou com o carro sem abrir a boca. Já nem sabia mais para onde ele estava me levando – para minha casa ou para o supermercado. Acabamos indo fazer compras, mas o mal já estava feito. Nando quase nem abria a boca para falar comigo e eu passei o tempo todo com cara de choro. Por fim, pedi para que ele me deixasse em casa e, para meu desespero, meu namorado não pôs qualquer objeção quanto a isto.


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