Acordei pontualmente às nove
horas da manhã com o sol entrando pela janela. O Nando, ao meu lado, parecia
dormir profundamente. Ligeiramente tonta, levantei-me e fui tomar um banho bem
frio. E quando retornei encontrei meu lindo namorado, de olhos semicerrados,
rolando pela cama.
Ele murmurou:
− Pensei que você tivesse ido para a praia sozinha.
Atirei-me ao lado dele e beijei
todo o seu rosto.
− Já curou sua bebedeira?
− Nem fiquei tão bêbado assim.
− Realmente, no reveillon você
estava bem pior.
− Você também estava meio alta
ontem. Eu percebi.
− Foi a melhor maneira que achei
para enfrentar as amigas da sua ex-noiva.
− Não ligue para elas – Nando
pediu, bocejando, para depois declarar – Estou com vontade de tomar um suco.
Prontamente me ofereci:
− Quer que eu faça um para você?
− Eu quero – respondeu ele sem
rodeios – Enquanto você desce, eu tomo um banho. O que você acha?
− Acho que tudo bem.
Louca para agradar meu amor,
coloquei meu biquíni e desci, achando que todos estavam dormindo, curando a
ressaca. Enganei-me redondamente. Quando entrei na cozinha, dei de cara com
Karine e Tati que imediatamente interromperam a conversa quando me viram. Fingi
que não estava nem aí para elas e alegremente dei um sonoro “bom dia”. Elas mal
responderam recomeçando a conversa aos poucos.
Como nenhuma fez questão de me
ajudar, tive um pouco de dificuldade em achar o liquidificador para fazer o
suco. Eu sabia que elas acompanhavam cada passo meu e minha maior preocupação
era não fazer nenhuma burrada. Tentando manter a calma, cortei várias fatias de
melancia, preparei sanduíches para mim e para o Nando, enquanto escutava o
papinho superficial delas. Várias vezes as duas mencionaram o nome da Raquel,
em tom mais alto, só para que eu escutasse. Fiquei furiosa. Depois, para
completar o quadro, chegou a tal da Sandrinha, para mim a pior de todas as
três. Esta não fez a menor questão de me cumprimentar e eu nem olhei para trás
para tentar bancar a simpática.
Com a chegada da Sandrinha, elas
se transformaram em umas gralhas ridículas. A palavra mais falada era “Raquel”.
A Raquel era linda, poderosa, moderna, enfim, uma mulher de sucesso. Eu queria
esganar todas elas. Coloquei os pedaços de melancia no liquidificador e o
liguei. Para minha satisfação, o aparelho era um pouco antigo e fazia um
barulho ensurdecedor, abafando a voz delas e irritando-as profundamente. De
propósito deixei-o ligado mais tempo, em um ponto que nem mesmo eu mais
suportava. Quando finalmente eu decidi desligá-lo, o silêncio voltou à cozinha
e as três encaravam-me furiosas. Esperei ansiosamente que elas dissessem alguma
coisa, pois eu já estava pronta para a reação. Mas o silêncio permaneceu,
infelizmente, e sem olhar para Sandrinha, Karine e Tati, peguei a jarra do
liquidificador e os sanduíches e subi para paparicar meu amor.
Encontrei-o enrolado em uma
toalha, já de banho tomado. Assim que ele me viu, abriu um sorriso e me
elogiou:
− Puxa, que eficiência...
Contente com o elogio, eu
respondi:
− Fiz um suco de melancia.
Lembrei que você disse uma vez que gostava.
− Adoro. Deu para ouvir o
liquidificador daqui.
Contei para ele, então, o que
havia se passado lá embaixo e o motivo de eu haver infernizado todo o litoral
com o aparelho. Nando escutou sério, bebericando o suco, sem dizer nada o tempo
todo. Quando eu acabei o relato, ele disse:
− Vou tentar ficar sempre com
você quando elas estiverem por perto. Mas se você se sentir ofendida, reaja.
Não engula nenhum desaforo delas.
− Não sou muito de reagir… mas
não sei se conseguirei ficar quieta por muito tempo.
− Não vou deixar nosso carnaval
ser um inferno. Prometo.
Eu sabia que ele falava sério.
Terminamos de comer em cima da cama, em clima de romance. Depois, aproveitando
que o sol estava quente, fomos direto para a praia.
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