sexta-feira, 27 de julho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 37)


Os dias que passamos na serra foram encantadores, como não poderiam deixar de ser. A cidadezinha era bucólica, o hotel muito aconchegante. A gente não tinha nada para fazer, mas também isso não importava. Conhecemos todos os lugares turísticos e não-turísticos dos arredores e nunca tirei tanta foto na minha vida. Pena que eu não podia mostrar a foto do Nando para ninguém temendo que ele fosse reconhecido. E eu esperava que ele fizesse o mesmo. Passamos momentos maravilhosos sem imaginar que o meu tormento começaria a partir da minha volta, quando tudo iria degringolar vertiginosamente. Quando chegou a quarta-feira resolvi ligar para minha irmã e comunicar que só voltaria no próximo domingo. Evidentemente levei um sermão. Irresponsável foi a palavra que mais escutei. Pedi que ela não contasse para mamãe minhas intenções e desliguei o celular antes que eu ouvisse mais e mais xingamentos.
O pior aconteceu um pouco antes de irmos embora, ainda no hotel. Nando começou a falar sobre meus tios e primos, nem lembro como o assunto começou. Eu estava arrumando minhas coisas, escutando o que ele dizia, ligeiramente tensa que a conversa rumasse para algum terreno perigoso. Fui até o banheiro pegar minha escova de cabelo quando o Nando perguntou lá do quarto:
- Quais os nomes dos seus pais?
Fiquei imediatamente branca. Será que estava desconfiado de alguma coisa? Aparentemente não, a não ser que ele fosse um ótimo ator. Meu rosto, no espelho, refletia todo o meu pânico. E agora?
- Por quê? – perguntei tentando ganhar tempo, as mãos tremendo. Comecei a pentear o cabelo, mesmo estando bem penteada. Eu não queria voltar para o quarto e olhar para o rosto dele.
- Porque eu quero saber, ora essa.
De repente ele estava na porta do banheiro. Permanecemos nos olhando por alguns segundos. Nando esperava alguma resposta e eu pensava no que dizer. Droga, eu teria que mentir e esconder minha carteira de identidade depois em algum lugar bem secreto.
- Isis e Heitor.
- Isis é um nome bonito – elogiou ele.
            Os nomes inventados não tinham nada a ver com os nomes reais. De maneira alguma eu poderia esquecê-los. Meu Deus.
- Você está pronta?
Terminei de me pentear e respondi, sentindo meu coração disparar de medo e remorso:
- Sim.
- Então vamos… Temos um longo caminho pela frente.
Eu também esperava que nós dois tivéssemos um longo caminho para percorrermos juntos.



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