quarta-feira, 7 de novembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 60)


Rafa estranhou minha presença em casa naquele início de semana que antecedia à Páscoa. Na segunda-feira limitou-se a falar comigo aos monossílabos somente o que era preciso. No dia seguinte ela não suportou a curiosidade. Eu estava na cozinha à noite preparando um lanche quando Rafa chegou de mansinho e fuzilou:
− Brigaram?
Não olhei para ela. Respondi enquanto cortava os tomates:
− Ele está em São Paulo. Volta antes do feriadão.
− Ah…
Não demorou cinco minutos minha irmã retornou à cozinha e disse:
− Esqueci-me de lhe dar um recado da mamãe.
− Qual recado?
− Ela pediu que você verificasse se tem alguma roupa que não lhe serve mais. É para os pobres que ela ajuda, lá da nossa cidade.
Minha mãe vivia fazendo caridade. E meu pai também.
− Vou olhar. Você vai mandar por alguém?
Rafaela me olhou estranhamente:
− Nós vamos passar o feriadão lá.
− Você e o Guto?
− Eu, você e o Guto.
Larguei tudo com um estrondo em cima da pia.
− Como assim?
− Paulinha! Qual evento se comemora no sábado?
− A Páscoa. E é no domingo.
Minha irmã ficou me encarando e eu sustentei o olhar. Ela não parecia entender alguma coisa e eu tampouco.
− É aniversário dela, Paulinha.
− Dela quem?
Na hora em que terminei de perguntar, me dei conta imediatamente do que Rafaela queria dizer. O Nando me tirava completamente de órbita, todos meus pensamentos eram para ele. Minha mãe faria aniversário no próximo sábado e eu havia me esquecido completamente. Agora estava envolvida em uma bela confusão familiar.
− Bom… eu não vou poder ir.
− Como não? É aniversário da sua mãe!
− Vou passar o feriadão em Florianópolis com o Nando. Não me lembrei do aniversário dela.
− Desmarque – Rafa praticamente ordenou.
− Não vou desmarcar – revidei friamente.
− É aniversário da sua mãe!
 Ela vai compreender.
Eu estava bem perturbada. Minha mãe não iria compreender coisa alguma.
− Você prefere passar o feriadão da Páscoa com seu primo a celebrar com sua mãe?
Rafaela, quando queria, era infernal.
− Não é uma questão de preferir… Tudo bem, eu prefiro ficar com o Nando, sim! Qual é o problema?
− O problema é seu! Quer saber? Vá mesmo passar o feriado com seu primo. Pode ser o último.
A vontade que tive de esbofetear Rafaela foi tão grande que segurei minha mão a poucos centímetros do rosto dela. Surpresa com a minha agressividade, Rafa saiu da cozinha deixando que eu remoesse minha raiva e tentasse articular uma saída.

Não encontrei saída alguma, mas decidi acabar com aquilo de uma vez por todas. Peguei o celular e me tranquei no quarto. Meu coração batia desesperado, enquanto eu efetuava a ligação. Minha mãe atendeu no segundo toque.
− Oi, mãe. É Paulinha.
− Paulinha! Tudo bem? Sua irmã me contou que você teve um pequeno probleminha estomacal por esses dias.
− Ah, não foi nada. Estou bem agora – minimizei.
− Rafa lhe deu o recado?
− Qual? – Tentei ganhar tempo.
− Sobre as roupas velhas.
− Ah, claro. Eu vou separar para você. Papai está bem?
− Muito bem. Mas ele se queixa que só a Rafaela liga para cá.
Era uma suave reprimenda. Minha mãe continuou:
− Agora tudo vai se ajeitar e ele ficará mais tranquilo quando vocês chegarem no feriadão.
− Mãe, é sobre isto que quero falar com você.
Ela ficou em silêncio do outro lado, como se pressentisse que viria uma notícia ruim.
− Eu não vou poder ir – disparei.
Mais silêncio. Depois veio a pergunta, meio aflita:
− Por que não?
− Porque o Nando reservou uma pousada para nós em Florianópolis.
− Você não informou ao seu namorado que neste fim de semana é meu aniversário? – a voz dela era um iceberg.
− Mãe, eu nem lembrei – confessei angustiada.
De novo o silêncio. Isto era pior que mil sermões juntos.
− Você esqueceu o aniversário da sua mãe?
− Esqueci – confirmei de olhos fechados, esperando o porvir.
− Pauline, estou decepcionada com você.
− Mãe, olha só…
− Este homem virou sua cabeça de tal forma que toda sua vida gira em torno da dele.
− O Fernando é uma pessoa maravilhosa – fiquei ofendida com as palavras dela, mas reconhecendo a razão em todas as letras.
− Acredito que seja. Ele fez com que você abandonasse a faculdade, perdesse o estágio e passasse por cima do meu aniversário. Realmente, é o genro dos sonhos.
− Como o Nando iria saber do seu aniversário se nem eu lembrava?
− Bem, Pauline, faça o que você achar melhor. Se para você é mais interessante passar três dias ao lado do tal Fernando, então vá com ele. Quem sou eu para impedir? Apenas sua mãe e nada mais que isto. Só não se esqueça das roupas.
           
Depois de dizer isto ela desligou o telefone sem sequer se despedir. Chocada, fui até a sala onde minha irmã assistia TV. Eu tinha certeza que ela escutara a conversa. Furiosa, ameacei:
− Se você abrir a boca e contar tudo para nossos pais vou acabar com sua raça!
Rafaela nem piou e eu sabia que ela não se atreveria a falar qualquer coisa para eles. Perdi a fome totalmente. Guardei a comida que eu preparava dentro da geladeira e me tranquei no quarto.


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