Ele veio me buscar em casa para
irmos ao cinema, mas eu ainda estava tensa. Minha tarde de pensamentos de
terror deixara-me exausta e carente. A vontade que eu tinha era de ficar
somente com ele, em um lugar isolado, apenas nós dois. E de preferência em silêncio
para que não corresse o risco de ele me perguntar qualquer coisa que pusesse
toda a minha mentira em risco.
O filme era bom, mas eu pouco
prestei atenção. Durante toda a sessão a única coisa que eu escutava eram as
batidas descompassadas do meu coração. E ele percebeu. Quando o filme chegou ao
fim, ele me olhou e disse:
− Eu tinha a intenção de convidar
você para ir jantar depois do cinema, mas me parece que você não está nos seus
melhores dias.
Fiquei gelada. Minha mão congelou
na dele em questão de segundos. Antes que eu respondesse, ele comentou:
− A impressão que eu tenho é que
você está doente.
Era assim que eu me sentia.
Doente. Murmurei:
− Muitas coisas aconteceram
nestes últimos dias.
Estávamos caminhando em direção
ao estacionamento do shopping para buscar o carro. Ele retrucou:
− Você perdeu um emprego e achou
outro. Uma porta se fechou e a outra se abriu. Assim é a vida.
- Você faz a vida parecer muito simples.
− É simples sim. Nós que
complicamos tudo.
Aquela frase ficou martelando na
minha cabeça. Eu estava complicando tudo, arruinando tudo.
Entramos no carro e ele deu a
partida no motor perguntando:
− Você está com fome?
− Não muita. E você?
− Com vontade de comer um boi.
Quem sabe eu chamo uma pizza? Você vai dormir lá em casa, não vai?
− Claro que sim – assegurei,
passando a mão no rosto dele – Estou com saudades.
Nando me deu um beijo e fomos
para o apartamento dele.
A pizza veio logo e eu me
descobri com fome. Percebi que Nando me olhava meio estranho enquanto comíamos
e o alerta vermelho acendeu novamente. Nem precisei falar nada, pois ele foi
mais rápido.
− Você se deu conta de uma coisa?
− O quê?
− Raquel é publicitária.
− E daí?
− E você vai trabalhar em uma
agência de publicidade.
A pizza quase entalou na minha
garganta. Perguntei tensa:
− Mas… é a mesma agência?
− Claro que não – ele sorriu –
Porém ela é uma profissional bem sucedida. É capaz de você ouvir o nome dela
algumas vezes por lá.
− Ou então de ela aparecer na
agência.
− Tudo é possível.
− Bem, ela não me conhece. E de
qualquer forma não acredito que ela vá fazer algum escândalo no seu meio
profissional.
Um tanto cético Nando me encarou
e disse:
− Você acha? Não tenha tanta
certeza assim.
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