O celular tocou pontualmente às
dez horas da manhã. Acordei num susto, pensando estar atrasada para alguma
coisa. Depois me lembrei de que eu não tinha compromisso nenhum e relaxei.
Sonolenta peguei o telefone. Era Rafaela. Minha irmã não me deixou nem dizer
bom dia.
- Paulinha, acorda! Consegui uma
entrevista de emprego para você!
Típico de Rafaela. Sentei na cama
imediatamente, acordada por inteiro.
- Onde?
- O tio do Guto tem uma agência
de publicidade e eles estão precisando de uma secretária com o seu perfil. Agendei
com o diretor para as 11 horas da manhã. Anota aí o endereço.
Enquanto eu anotava, aos
garranchos, o lugar aonde eu deveria ir, choraminguei:
- Rafa, eu nunca fui secretária
na vida…
- Você vai conseguir. O Guto
disse que o salário é muito bom. E olha, não é estágio! É emprego mesmo, com
carteira assinada!
Ela, obviamente, estava mais
animada do que eu. Agradeci e desliguei o celular. Eu não tinha muito tempo.
Tomei um banho rápido e tentei desamassar o rosto. Não ficaria bem chegar a uma
entrevista de emprego com cara de sono. Vesti o que achei pela frente e decidi
pegar um táxi. Cheguei com cinco minutos de antecedência e logo me passaram
para a sala do diretor que precisava de uma secretária com experiência. Bem, eu
não tinha experiência alguma, mas o homem foi com a minha cara. Depois de meia
hora de conversa ele me considerou a pessoa ideal para assumir o cargo, o que
muito me surpreendeu. Dali fui direto para o recursos humanos e peguei uma
lista de exames que precisava fazer. Já passava do meio dia quando lembrei que
meu celular estava desligado. Eu esperava que o Nando tivesse me ligado. Não
via a hora de contar a novidade para ele. Além do mais, eu tinha gostado
bastante do lugar. As pessoas pareciam ter um ótimo astral e o ambiente era
descontraído. E como minha irmã dissera, o salário era bem bom. Nem parecia que
tudo aquilo era verdade.
Como eu esperava havia uma
mensagem do Nando. Liguei imediatamente para ele.
- Nando, sou eu.
Ele estava em pleno almoço.
Escutei som de vozes ao redor.
- Você está em casa?
- Não. Eu fui fazer uma
entrevista de emprego – contei eufórica.
- Já? – surpreendeu-se ele.
- Foi a Rafa que conseguiu para
mim. E deu tudo certo! Acho que começo na semana que vem!
- Isto é ótimo! – vibrou Nando –
Vamos nos encontrar esta noite?
Era tudo o que eu queria ouvir.
- Claro, claro que sim. Estou com
saudades...
- Ligo para você mais tarde
então. Aí conversamos melhor.
- Certo. Até mais.
Ótimo, tudo estava saindo como eu
desejava. Quando liguei para Rafa a fim de contar tudo ela já sabia da
novidade. Cheguei em casa e liguei para meus pais. Também para eles não havia
sido surpresa. Rafaela havia telefonado para lá. Como eu não tinha mais nada a
fazer, atirei-me na cama e ali fiquei a pensar na vida. E isto equivalia a
pensar somente no Nando.
Entretanto, quanto mais eu
pensava nele, mais eu me inquietava. Nosso namoro ía bem. Eu sabia que ele
gostava de mim de uma maneira que eu jamais pensei que fosse acontecer. E o
cerco, meu Deus, o cerco se fecharia cada vez mais. Eu não poderia levar aquela
vida dupla por muito tempo. Seguramente, se não revelasse toda a verdade, eu
acabaria dando um furo. Ou alguém da família dele poderia me reconhecer, em
qualquer encontro casual. Cenas horríveis vieram a minha mente. Cenas que
certamente tinham tudo para se tornarem reais.
Dei um pulo e saltei da cama
angustiada. Eu não podia perder o Nando de jeito nenhum, mas para isto eu
precisava contar quem eu era. Coragem era tudo o que me faltava.
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