Pelo resto da semana eu dormi no apartamento do Nando. Em casa eu só passei para buscar algumas roupas e minha escova de dente. Nem nas aulas da faculdade eu compareci mais porque era muito melhor ficar com ele a assistir aquelas matérias chatas de um curso que eu estava abandonando.
Os
poucos dias que fiquei no apartamento do Nando foram de encantamento e também
de apreensão. A todo o momento eu temia que chegassem seus pais ou o irmão mais
velho e minha identidade fosse revelada. Felizmente nada disto aconteceu.
Apesar de nos comportarmos como dois namorados, inclusive fazendo compras no
supermercado ou indo ao cinema, eu não sabia se estávamos namorando. Quer
dizer, eu me sentia namorada dele, com direito a palpitar sobre alguns assuntos
da família dele (e minha). Porém, eu ainda não conseguira descobrir se o Nando
me namorava. Nem mesmo sabia como me referir a ele. Namorado, ficante, rolo...
Fosse o que fosse, o certo é que eu vivia um momento mágico. Meu sinal vermelho
de alerta estava permanentemente piscando, como se me avisasse que tudo aquilo
tinha data para acabar. Eu procurava ignorar isso para não estragar tudo. E
cada vez que eu olhava para o Nando tinha absoluta certeza de que havia
encontrado o amor da minha vida. Eu não sabia que amar era tão bom.
E
eu precisava me preocupar com pequenos detalhes – ou pequenas mentiras – que
sustentavam meu relacionamento com o Nando. No final de semana ele sugeriu que
fôssemos para o apartamento dos meus tios na praia e que estava vazio. Meio
apavorada concordei. Certa vez, há muitos anos, meus pais, eu e Rafa, passamos
um mês inteiro lá. Era grande e bem decorado. Eu só esperava que ninguém da
família resolvesse nos visitar.
Mas
foi durante o trajeto para a praia que cometi meu primeiro erro. Em meio a
assuntos banais, o Nando perguntou:
-
Você tem falado com a Ana?
Olhei
para ele com a cara mais estranha do mundo.
-
Que Ana?
Foi
a vez de o Nando fazer uma cara mais esquisita ainda.
-
Você não me disse que sua irmã se chama Ana? Ou será que entendi mal?
Engoli
em seco. Ana Rafaela. E agora? Como iria me sair daquela? Tentei esconder
minhas mãos trêmulas debaixo da minha camiseta.
-
Ah, claro. É Ana, sim. É que eu sempre a chamo de Aninha. Aliás, todos a chamam
pelo diminutivo. O que você me perguntou mesmo?
-
Perguntei se você tem falado com ela. Afinal, você não tem mais dormido na sua
casa e nem vai mais às aulas. Deve estar sem vê-la há algum tempo.
-
Conversamos por telefone esses dias – eu fiquei olhando fixamente para frente,
para não ter que encará-lo e ele descobrisse a mentira no meu olhar – E ela nem
sente a minha falta. A Aninha tem um namorado que não desgruda dela nunca.
-
Sua irmã já sabe que você pretende largar o curso?
-
Nem sonha. Ainda mais que planejamos a muito tempo de trabalharmos juntas. Eu
só não podia imaginar que o curso não teria nada a ver comigo.
-
Bem, se você tem certeza que está fazendo o curso errado, então o momento de
mudar é agora.
Mas
não era com aquilo que eu estava preocupada. Eu estava me lixando para o meu
curso, para as minhas faltas ou para o meu futuro profissional. A única coisa
que me interessava era ele, o Nando, mesmo sabendo que eu jamais poderia abrir
mão da minha vida e das minhas coisas por causa de um homem.
Chegamos
à praia no sábado, antes das onze horas da manhã. Fora o edifício que estava
com uma nova pintura, o resto permanecia tudo igual. O apartamento também fôra
pintado, mas os móveis continuavam os mesmos, muito bem conservados. Era quase
como uma volta ao passado. Parecia que a qualquer momento meu tio sairia por
uma porta e que conversaríamos normalmente como se nada nunca tivesse
acontecido.
Infelizmente
a realidade era outra, mas tentei afastar este pensamento da mente e concentrar
na minha felicidade. Arrumamos as coisas rapidamente e fizemos amor antes de
irmos para a praia. O dia estava quente e ensolarado e saímos de mãos dadas,
como dois namorados, afinal. Eu me sentia muito importante com um homem lindo
como o Nando ao meu lado. Ele atraía olhares femininos e eu tinha vontade de
dizer para todas as mulheres que o observavam:
Ele
é meu.
Situação espinhosa... fico pensando em quantas "manobras" Pauline ainda vai fazer para tentar se livrar da confrontação com a verdade.
ResponderExcluirE, como raios Nando não a reconhece? rs
O Nando não reconhece a Pauline por eles não se verem há muitos anos. E tem que ficar assim mais um tempo, senão a história termina antes da hora!
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