Havia
tantas pessoas que eu comecei a ficar tonta. Respirei fundo. Mesmo assim eu não
pensava em desistir. Eu precisava saltar. Desejava urgentemente de alguma
motivação, de pensamentos diferentes. Qualquer coisa que me levasse para longe
do Nando e do seu ódio mortal.
Quando estávamos bem próximos,
Victor olhou para mim com uma expressão de riso e desconfiança. Perguntou:
−
Você vai saltar?
−
Vou – respondi com a voz fraca.
−
O que você quer provar, Pauline? – Victor cruzou os braços e ficou na minha
frente, impedindo minha passagem – O que está acontecendo?
−
Nada. Eu quero saltar. Qual é o problema?
−
Nenhum. Ainda dá tempo para desistir desta palhaçada. Vai pular, então?
−
Claro. Você não disse que é seguro? Ninguém morreu até agora. Eu não vou ser a
primeira.
−
Só temo que você morra de susto – sentenciou Fred.
Não respondi por que também este era
meu medo.
−
Está certo. Eu vou falar com o pessoal e inscrever você – disse Victor,
finalmente, afastando-se de nós.
Fiquei parada ao lado de Fred,
sentindo-me desamparada. Escutei a voz dele enquanto eu divagava na minha
tristeza:
−
Você está com dor de barriga?
−
O quê? – olhei para ele espantada.
−
Pauline, você devia se olhar no espelho. Sua expressão é algo assustador.
−
E você queria que eu estivesse como? O homem que eu amo me odeia! Quer que eu
faça o quê?
−
Qualquer coisa. Menos saltar de bunggie jump – respondeu Fred com sua paciência
habitual.
Ele fez uma pausa e prosseguiu:
−
Bem, continuo achando que você está com uma vontade louca de ir ao banheiro.
−
Só se for para vomitar – murmurei, sentindo meu estômago começar a se revoltar.
Tinham passado uns cinco minutos
quando Victor retornou apressado. De repente, ele parou a minha frente, pegou
meu braço e foi me puxando em direção ao lugar de onde as pessoas estavam
saltando. Disse:
−
Venha, você é a próxima!
Empalideci de vez e minhas pernas
faltaram. Mesmo assim consegui ficar em pé, sendo segura por Victor e com Fred
no nosso encalço.
−
Mas já? – perguntei tensa – Recém chegamos! Não há outras pessoas na minha
frente?
−
Você é a primeira mulher hoje que vai pular. Nenhuma se arriscou até agora. Por
isto os organizadores abriram um espaço para você.
Bem, pensei eu, pelo menos a tortura
vai acabar logo. De alguma forma, enjoada e sem sentir as pernas, eu cheguei
próximo de onde se saltava. Fui cercada por uns dois caras que começaram a me
dar algumas instruções. Tentei escutar alguma coisa, mas meus nervos estavam em
frangalhos. Meu enjôo aumentou. Fiquei levemente tonta e achei que fosse
desmaiar. Quando respirei fundo, um dos homens perguntou:
−
Vai saltar?
Minha voz saiu firme e forte.
−
Vou.
Então comecei a ver as coisas como
se eu não estivesse mais no meu corpo. Eles continuaram a me dar instruções,
mas minha cabeça estava longe. Puseram-me um capacete, prenderam as cordas ao
redor do meu corpo. Eu tinha uma leve sensação de que voava. Victor e Fred não
estavam próximos. Até então eu não tinha tido coragem de olhar para baixo. Era
melhor mesmo continuar olhando para cima ou para os lados.
Aquela sensação estranha de que eu
não estava ali permanecia e eu não sabia dizer se era bom ou ruim.
Cheguei a me perguntar se seria possível eu algum dia voltar ao mundo... ou
será que voaria para sempre? E nesse mundo, o Nando conseguiria um dia me
encontrar?
−
Está pronta para o salto?
Olhei para o homem que me perguntou
e balancei a cabeça, muito lentamente. Meu Deus, disse para mim mesma, não
posso mais voltar agora. Eu era o centro das atenções. Parecia que o mundo
inteiro estava com os olhos pregados em mim. Tenho que ir em frente, tenho que
ir em frente.
Eram apenas dois passos para frente
que eu tinha que dar. O terceiro era o espaço vazio que me esperava. De alguma
forma parei no ponto do salto e arrisquei um olhar para baixo.
Simplesmente assustador. Água,
altura, pânico, enjoo. Tudo junto ao mesmo tempo. Achei que não sairia viva
daquela aventura infeliz que eu havia me metido. Por que eu não tinha inventado
outra coisa menos imbecil? Teria sido muito mais simples se eu tivesse calçado
meus tênis e ido correr na areia da praia até cair exausta no chão. Ou então tomasse uma caixa de calmantes para ter uma morte mais
calma e sem emoção. Tudo culpa do Nando.
Eu estava ali, pronta para pular,
mas sem me mover um milímetro. Havia um silêncio em minha volta, todos
aguardando que eu saltasse. Muitos já deviam estar se cutucando, dizendo: ela
não vai conseguir, ela vai recuar, ela FRACASSOU. Ainda me sentia fora de
órbita quando olhei para trás, tentando visualizar Victor e Fred, em busca de
um derradeiro apoio moral.
Custei um pouco a encontrá-los. Eles
estavam um pouco mais para a esquerda, a uns dez metros de mim, olhando-me com
uma expressão de diversão. Junto deles havia uma terceira pessoa, um homem.
Era o Nando.
Espero sinceramente q nao demore para postar outro cap...
ResponderExcluirVc conseguiu me prender desde o começo estou adorando a historia e ansiosa para saber o final.
Espero q depois dessa vc ja tenha outra....
O último capítulo será o mais longo. Acho que publico na sexta ou sábado. Obrigada pelas leituras, beijos!
ResponderExcluirNossa.. será que era o Nando mesmo, ou ela já estava vendo coisas, de tanto nervosismo?
ResponderExcluirEsperando o próximo capítulo...