quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 70)


            Havia tantas pessoas que eu comecei a ficar tonta. Respirei fundo. Mesmo assim eu não pensava em desistir. Eu precisava saltar. Desejava urgentemente de alguma motivação, de pensamentos diferentes. Qualquer coisa que me levasse para longe do Nando e do seu ódio mortal.
            Quando estávamos bem próximos, Victor olhou para mim com uma expressão de riso e desconfiança. Perguntou:
− Você vai saltar?
− Vou – respondi com a voz fraca.
− O que você quer provar, Pauline? – Victor cruzou os braços e ficou na minha frente, impedindo minha passagem – O que está acontecendo?
− Nada. Eu quero saltar. Qual é o problema?
− Nenhum. Ainda dá tempo para desistir desta palhaçada. Vai pular, então?
− Claro. Você não disse que é seguro? Ninguém morreu até agora. Eu não vou ser a primeira.
− Só temo que você morra de susto – sentenciou Fred.
            Não respondi por que também este era meu medo.
− Está certo. Eu vou falar com o pessoal e inscrever você – disse Victor, finalmente, afastando-se de nós.
            Fiquei parada ao lado de Fred, sentindo-me desamparada. Escutei a voz dele enquanto eu divagava na minha tristeza:
− Você está com dor de barriga?
− O quê? – olhei para ele espantada.
− Pauline, você devia se olhar no espelho. Sua expressão é algo assustador.
− E você queria que eu estivesse como? O homem que eu amo me odeia! Quer que eu faça o quê?
− Qualquer coisa. Menos saltar de bunggie jump – respondeu Fred com sua paciência habitual.
            Ele fez uma pausa e prosseguiu:
− Bem, continuo achando que você está com uma vontade louca de ir ao banheiro.
− Só se for para vomitar – murmurei, sentindo meu estômago começar a se revoltar.
            Tinham passado uns cinco minutos quando Victor retornou apressado. De repente, ele parou a minha frente, pegou meu braço e foi me puxando em direção ao lugar de onde as pessoas estavam saltando. Disse:
− Venha, você é a próxima!
            Empalideci de vez e minhas pernas faltaram. Mesmo assim consegui ficar em pé, sendo segura por Victor e com Fred no nosso encalço.
− Mas já? – perguntei tensa – Recém chegamos! Não há outras pessoas na minha frente?
− Você é a primeira mulher hoje que vai pular. Nenhuma se arriscou até agora. Por isto os organizadores abriram um espaço para você.
            Bem, pensei eu, pelo menos a tortura vai acabar logo. De alguma forma, enjoada e sem sentir as pernas, eu cheguei próximo de onde se saltava. Fui cercada por uns dois caras que começaram a me dar algumas instruções. Tentei escutar alguma coisa, mas meus nervos estavam em frangalhos. Meu enjôo aumentou. Fiquei levemente tonta e achei que fosse desmaiar. Quando respirei fundo, um dos homens perguntou:
− Vai saltar?
            Minha voz saiu firme e forte.
− Vou.
            Então comecei a ver as coisas como se eu não estivesse mais no meu corpo. Eles continuaram a me dar instruções, mas minha cabeça estava longe. Puseram-me um capacete, prenderam as cordas ao redor do meu corpo. Eu tinha uma leve sensação de que voava. Victor e Fred não estavam próximos. Até então eu não tinha tido coragem de olhar para baixo. Era melhor mesmo continuar olhando para cima ou para os lados.
            Aquela sensação estranha de que eu não estava ali permanecia e eu não sabia dizer se era bom ou ruim. Cheguei a me perguntar se seria possível eu algum dia voltar ao mundo... ou será que voaria para sempre? E nesse mundo, o Nando conseguiria um dia me encontrar?
− Está pronta para o salto?
            Olhei para o homem que me perguntou e balancei a cabeça, muito lentamente. Meu Deus, disse para mim mesma, não posso mais voltar agora. Eu era o centro das atenções. Parecia que o mundo inteiro estava com os olhos pregados em mim. Tenho que ir em frente, tenho que ir em frente.
            Eram apenas dois passos para frente que eu tinha que dar. O terceiro era o espaço vazio que me esperava. De alguma forma parei no ponto do salto e arrisquei um olhar para baixo.
            Simplesmente assustador. Água, altura, pânico, enjoo. Tudo junto ao mesmo tempo. Achei que não sairia viva daquela aventura infeliz que eu havia me metido. Por que eu não tinha inventado outra coisa menos imbecil? Teria sido muito mais simples se eu tivesse calçado meus tênis e ido correr na areia da praia até cair exausta no chão. Ou então tomasse uma caixa de calmantes para ter uma morte mais calma e sem emoção. Tudo culpa do Nando.
            Eu estava ali, pronta para pular, mas sem me mover um milímetro. Havia um silêncio em minha volta, todos aguardando que eu saltasse. Muitos já deviam estar se cutucando, dizendo: ela não vai conseguir, ela vai recuar, ela FRACASSOU. Ainda me sentia fora de órbita quando olhei para trás, tentando visualizar Victor e Fred, em busca de um derradeiro apoio moral.
            Custei um pouco a encontrá-los. Eles estavam um pouco mais para a esquerda, a uns dez metros de mim, olhando-me com uma expressão de diversão. Junto deles havia uma terceira pessoa, um homem.
            Era o Nando.


3 comentários:

  1. Espero sinceramente q nao demore para postar outro cap...
    Vc conseguiu me prender desde o começo estou adorando a historia e ansiosa para saber o final.
    Espero q depois dessa vc ja tenha outra....

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  2. O último capítulo será o mais longo. Acho que publico na sexta ou sábado. Obrigada pelas leituras, beijos!

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  3. Nossa.. será que era o Nando mesmo, ou ela já estava vendo coisas, de tanto nervosismo?
    Esperando o próximo capítulo...

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