quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 69)


           Era sábado e eu estava de folga. Isto não era bom. Novamente eu precisava me ocupar para não ficar pensando em nada que me perturbasse. Quando encontrei Victor e Fred na cozinha a primeira coisa que eles perguntaram foi:
− Está melhor agora?
            Achei os dois estranhos. Pudera, deviam ter ficado assustados com meu show na noite anterior.
− Mais ou menos – confessei – Eu preciso urgentemente fazer alguma coisa diferente antes que eu me exploda. E o pior de tudo é que estou de folga. Será que sua mãe não vai precisar de mim hoje?
            Eu estava pronta para procurar a minha chefe e implorar por algum tipo de trabalho, mas Victor veio com uma proposta interessante:
− Pensei em algo melhor. Você gosta de bunggie jump?
− Bem, eu… nunca saltei.
− Quer ir com a gente? E saltar? Tem uma ponte a mais ou menos uns cinqüenta quilômetros daqui. Parece que hoje os aficionados do esporte vão se reunir lá. Eu e o Fred vamos ver como é. Pensamos em levar você.
            Era exatamente daquilo que eu precisava. Além do meu horror por água, eu sempre detestei altura. Minha mente precisava se distrair com algo que me atemorizasse para que Nando passasse para um segundo plano.
− Eu quero ir. Vamos! E eu vou saltar.
            Fred suspirou:
− Cara, esta garota é louca.
            Victor me encarou surpreso:
− Ei, eu estava apenas brincando. Nós só vamos olhar. É muito divertido.
− Bem, eu vou saltar – assegurei firme com o meu propósito de esquecer Fernando – Acho que será uma experiência inesquecível.
            Silêncio.
− Você tem certeza?
− Absoluta – eu garanti – A que horas nós vamos sair?


            Sentei no banco detrás do jipe. Fred e eu aguardávamos Victor para irmos para a ponte. Reparei que meu amigo estava pendurado no celular, sem parecer estar com muita pressa. Um pouco aborrecida eu perguntei:
− Com quem seu namorado conversa tanto? Faz uns dez minutos que ele está falando sem parar!
− Não faço a menor idéia – declarou Fred levantando o som do rádio – O que você acha desta música?
− Odeio reggae! – quase gritei emburrada. Quando minha paciência estourou, eu fiquei em pé no jipe e chamei – Vic! Ei, Vic! Vamos de uma vez!
            Eu estava impaciente. Fazia um esforço incrível para não pensar no Nando e só me preocupar com minha próxima aventura. Por enquanto eu estava me sentindo bem segura do que iria fazer.
            Victor fez um sinal de que não iria demorar e uns dois minutos depois desligou finalmente o celular. Calmamente ele veio na direção do carro, deu a partida no motor e me olhou sorridente:
− Pronta para se matar?
− Não vou me matar – respondi ainda emburrada.
− Não é o que parece. Bem, vamos lá.
            O trajeto até a ponte foi bem divertido. A música corria solta e em volume alto. Eu cantei músicas que não gostava e nem conhecia a letra para espantar a tristeza que tentava tomar conta do meu peito. E eu lutei. Durante aqueles cinqüenta quilômetros percorridos eu fiz o possível para sentir um pouco de vida dentro de mim. Falei feito um papagaio, cantei, gritei, até mesmo dei gargalhadas. E eu nem sei do que ri. Na verdade, eu me sentia como se estivesse na beira de um precipício e necessitava, desesperadamente, segurar-me em alguma coisa para não despencar em um buraco sem fundo.
            Eu estava distraída cantando em inglês uma música que eu nunca havia escutado na vida, quando Fred se virou apontando para frente:
− Olha lá, Pauline. A ponte.
            A ponte. Meus olhos se arregalaram quando eu visualizei a famosa ponte de onde eu pretendia saltar. Um rio passava por baixo, o que não me adiantaria em nada caso a corda elástica se arrebentasse. Havia pessoas lá, eu podia ver. E naquele momento alguém se jogou para delírio dos demais. Fiquei arrepiada. Pela primeira vez uma dúvida surgiu na minha mente.
− E então? – perguntou Victor – Disposta?
- Claro – respondi tentando manter minha convicção – 100% disposta.
            Minha disposição havia diminuído para 50% e a perspectiva é que ela desabasse mais ainda. Respirei fundo para não deixar o medo vir. Entre pensar no Nando e enfrentar a ponte, eu ficaria sempre com a segunda opção.
            Infelizmente o jipe percorreu a distância mais rápido do que eu gostaria. Victor custou a achar um lugar bom para estacionar o carro e acabamos tendo que caminhar um pouco mais até chegar ao local. E à medida que eu me aproximava, minhas pernas tremiam, minhas mãos suavam e eu me sentia ficando pálida. A única coisa que eu pedia era para não desmaiar.

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