sábado, 15 de dezembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 66)


− Satisfeito? É esta a minha história.

Eu estava sentada na beira da praia, na areia, ao lado de um amigo meu. Minha saga longe da minha família e de Nando já fazia cinco meses. Cinco longos meses de saudade e silêncio total da minha parte.
− Incrível – murmurou ele, encostando o rosto no meu ombro – Mas acho que esta história ainda não terminou.

Olhei para Victor, meu amigo desde que eu chegara a Natal. Ele era filho da dona da pousada onde de hóspede rapidamente passei a funcionária. Lá eu fazia de tudo. E Victor se tornou meu fiel companheiro e confidente praticamente desde a primeira semana.

Victor era um rapaz de vinte e poucos anos. Alto, magro, adorava festas e tentava desesperadamente me trazer de volta à vida. Logo fiquei amiga dele e do seu namorado. Fazíamos uma turma estranha. Era comum eu sair com eles. Frequentava, quando meu trabalho permitia, lugares interessantes. Victor e Fred bem que tentaram fazer com que eu me interessasse por outros homens. Não deu certo. Minha cabeça, meus pensamentos, jamais abandonavam o Nando. O fim do nosso relacionamento era algo sofrido mesmo depois daqueles meses. Victor pressentiu que minha tristeza era causada por um coração partido e, sutilmente, muitas vezes, tentou fazer com que eu revelasse o que tanto me torturava. Porém, se pensar no Nando já era doloroso, imagina falar sobre ele? Era demais. Não sabia se suportaria.

Mas naquela noite eu subitamente me senti disposta a falar. Victor tocou no assunto, eu desviei, ele chamou de volta e eu resolvi contar alguma coisa. Muito pouca coisa. De repente eu estava revelando tudo, descontroladamente. Não sei por quanto tempo falei. Victor escutou tudo atentamente, sem me interromper. Algumas vezes exclamava alguma coisa, surpreso – positiva ou negativamente – e no final declarou que a minha história não havia acabado ainda. Achei surpreendente.
− Já pensou – perguntou-me ele – no tumulto que você está causando na sua família? Eu digo em toda a sua família. E isto inclui seus pais, sua irmã, seu namorado que é também seu primo e os seus tios... Você provocou uma revolução.

Pus as mãos na cabeça, quase em pânico.
− Por favor, Vic, não me faça lembrar isso.
− Eles devem estar em pânico, apavorados, desesperados! Imagine, não tem notícias de você há cinco meses! Devem achar que você está morta!
− Mas não estou – me defendi freneticamente – E eles saberiam se eu estivesse.
− Saberiam de que jeito? – ele perguntou cético.
− Notícia ruim chega rápido.
− Ah, não venha com esta, Pauline! Você muito bem podia ter sido estuprada e assassinada – não necessariamente nesta ordem. Você tem olhado seu mail?
− Encerrei a conta.
− E o Facebook?
− Nunca mais… não tenho coragem. Se eu entrar na minha conta, vou me sentir tentada a entrar no perfil dele... E eu posso descobrir coisas que me machucam.
− Tipo... se ele tem uma namorada?
− Exato. O Nando pode até ter voltado para a ex. Eu não preciso saber destas coisas, Vic! Eu vim para cá para poder esquecê-lo, tentar uma nova vida, tirar da minha mente que ele me odeia a ponto de me dar uma surra.
− A surra que ele lhe deu… Nossa, não existe nenhuma prova maior de amor do que esta.

Olhei para ele sem poder acreditar no que ouvia.
− É que você não esteve lá para assistir ao quebra pau. Os olhos dele, Vic, foram a pior coisa que já vi na minha vida! Eles faiscavam ódio! Durante semanas, logo que vim para cá, toda vez que fechava meus olhos, eu enxergava os dele. Eu não merecia isto, Vic. Eu não merecia o ódio do Nando. Mas acho que a culpa foi minha… eu não soube conduzir a situação. Eu deveria ter falado desde o início sobre quem eu sou e…
− Agora não adianta mais – interrompeu Vic, levantando-se e me puxando pela mão – O que passou, passou. Imagine o que ele deve ter sentido quando caiu em si e se deu conta que havia surrado a mulher que amava, chegando mesmo a quase quebrar o seu pulso? Ele, o seu querido amor, deve estar em crise de consciência até hoje.

Meu Deus, como eu gostaria desesperadamente acreditar naquilo em que meu amigo afirmava tão convicto. Entretanto, eu sabia que as coisas não haviam sido assim. Nando jamais me perdoaria. Eu havia traído sua confiança e todo seu amor. Se ele quisesse, já teria me encontrado.
− Não, Victor. Não tenho esperanças. A única coisa que eu quero é ficar aqui, quietinha, em paz.

Naquela noite não tocamos mais no assunto e nem na noite seguinte. O fato de eu ter relembrado a minha história com o Nando fez com que todos os nossos momentos – felizes e infelizes – voltassem com força total. Cheguei mesmo a ficar um pouco deprimida. Fiz tanta força para tentar esconder em algum lugar da minha mente minha vida com o Nando... E agora tudo tinha ido por água abaixo em um piscar de olhos. De novo. Pelo menos eu estava longe. Mas, mesmo assim, eu comecei a me perguntar, incansavelmente: será que ele estava sentindo minha falta? Quem era a dona do seu coração agora? Eu esperava, sinceramente, que meus pais estivessem bem e que compreendessem os motivos que me levaram a tomar aquela atitude tão dramática.

Entretanto, Victor voltou à carga dois dias depois. Após o almoço, eu resolvi me espreguiçar na rede. Na verdade, eu não podia estar fazendo aquilo. Era meu horário de serviço, mas eu estava tão cansada... Meu sono havia sido repleto de sonhos com ele. Ele, Nando. Sonhos desconexos, que não tinham nem começo e nem fim. Eu perdi o sono às quatro da manhã e fiquei com os olhos arregalados até a hora de levantar.
− E então? Vamos tomar uma atitude?

Entreabri os olhos e me deparei com Victor, ao meu lado, na rede. Balbuciei:
− Tudo bem, eu já vou levantar.
− Não estou falando de serviço. Estou falando do tal do Fernando.
Sentei-me tão rapidamente na rede que ela virou e eu desabei no chão. Às gargalhadas, Victor me juntou enquanto eu me recompunha da minha vergonha.
− Esqueça – gemi vermelha de raiva e embaraço.
− Não – respondeu ele com firmeza – Você não está sendo justa com você mesma.
− O que você quer, Vic? – eu pergunte, quase chorando – Não quero levantar esta história de novo.

Ele me mostrou o celular.
− O que é isto?
− Um celular.
− E aí? – eu quase berrei.
− Vamos ligar pra ele?

Tentei arrancar o celular dele sem sucesso.
− Não! Vic, nós não iremos fazer isto.
− Você está com saudade dele, não está?
Fiquei muda.
− Está ou não?
− Claro que sim – respondi emburrada.
− Ligue para ele.
− Esqueci o número.
− Impossível. Você sabe até o CPF dele.
− Vic, não vou ligar. Quer que eu diga o quê?
− Que você o ama.
− Não.
− Tem certeza?
− Absoluta.
− Bem, e quem sabe escutar a voz dele? Só a voz?

Fiquei tentada por cinco longos segundos, mas respondi logo:
− Não. Vou sofrer. E além do mais, ele vai ver que é um número estranho, com código de área diferente. Vai saber que sou eu.
− E isto não é interessante? – insistiu Victor.
− Seria, se ele me amasse.
− Não vai saber... Eu configurei meu celular para que ninguém saiba que sou eu quem está ligando.
− Quer dizer que no visor do celular dele vai aparecer a mensagem “número confidencial” ou algo do tipo?
− Exato.
Titubeei de novo.
− Não, Vic. É melhor não. Vou sofrer.
− Está certo. Mas pense nisto. Eu sei que você vai pensar.

Fui fazer minhas coisas, realmente sem tirar a proposta de Victor da minha cabeça. Que mal faria escutar a voz dele? Um segundo ou dois e pronto. Eu desligaria. O Nando não se daria conta que era eu.

E se fosse pior? Se a saudade aumentasse?

Um comentário:

  1. Oie to amando a historia estou acompanhado desdo começo!!!! qdo vai ser o proximo capitulo espero q nao demore......

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