sexta-feira, 23 de março de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 1)


            Há quanto tempo eu estava atrás dele? Muito tempo. Havia sido uma caçada solitária, muitas vezes dolorida, com um final que eu julgava imprevisível.            
Ninguém podia sequer imaginar o tamanho da minha obsessão. Ou amor. Ou seja lá o que fosse. Por vezes eu interrompi minha caçada, por algum motivo superior a minha vontade. Para recomeçar logo em seguida.
Essa caça era meu primo, filho do irmão do meu pai. Fernando, este era o seu nome, com seis anos a mais que eu, nunca se deu conta de que eu existia. Apaixonada por ele eu era desde que me conheço por gente e assim vem sendo, desde então, por todos os meus 22 anos de vida.
Quando eu tinha aproximadamente oito anos de idade, sofremos um duro golpe. Meu tio, pai do Nando, conseguiu deixar-nos na miséria. Vendo-se falido e quase sem ter onde morar, meu pai juntou mamãe, eu e minha irmã mais velha e fomos todos morar no interior, em uma pequena cidadezinha da serra. Depois de muita luta, meu pai foi capaz de se reerguer, porém perdoar o irmão, jamais. Mamãe chegou a ficar doente, depressiva, quando seu nível de vida caiu drasticamente. Para mim e Rafaela também foi muito complicado. Mas os anos passaram, conseguimos sair do buraco, enfim. No dia que meu pai me deu um computador de presente de aniversário, eu já tinha traçado na minha mente o que fazer.
Eu iria atrás do Fernando. Primeiro, virtualmente.
Isso foi há uns três anos, um ano antes de eu finalmente passar em uma universidade federal, onde para alívio dos meus pais, o ensino era gratuito. Fui morar na capital, onde a Rafaela já estava instalada fazia algum tempo. Não demorou muito, descobri o Nando no Facebook. Namorei todas as fotos dele e tentei decifrar cada coisa que os amigos postavam no mural. Ninguém nunca desconfiou da minha obsessão, da minha caçada desenfreada. Por via das dúvidas, criei um Facebook falso. Porém, mesmo que não fizesse isso, Fernando jamais saberia quem eu era. Da última vez que ele havia me visto, eu estava bem magrinha, com um corte de cabelo curto e horroroso e com aparelho nos dentes. Com o tempo meu cabelo felizmente cresceu, fiquei ruiva e meus dentes não precisaram mais de artifícios para ficar bonitos. Meus ossos também deixaram de ser tão visíveis.
Quando eu me mudei para o apartamento alugado em que a Rafa já morava na capital, eu já sabia tudo da vida do Nando. Inclusive que ele tinha uma namorada firme. Evidentemente que isto não me desestimulou nem um pouco.


Minha irmã sempre foi mais festeira do que eu. Era comum ela sair para dançar com as amigas, enquanto eu ficava no apartamento, estudando. Algumas vezes, através do Facebook, eu descobria onde o Nando ía. E ele frequentava os lugares que minha irmã não curtia. E sair sozinha à noite, para ir atrás do meu primo, certamente não fazia parte dos meus planos de conquista, pelo menos ainda. Apesar de todo o meu esforço, o local que ele morava ainda era por mim ignorado. Só sabia que o Nando trabalhava em um grande banco, na assessoria jurídica. Portanto, deduzi que o meu amado era advogado. Eu sempre me pegava imaginando qual seria a minha reação quando eu finalmente ficasse frente a frente com ele. Já fazia tanto tempo... Nas fotos ele continuava o mesmo. O mesmo lindo, o mesmo fofo, o mesmo gato. Só torcia para que ele não continuasse com a mesma antipatia que sentia por mim quando éramos crianças.
O final do ano se aproximava e a Rafa não se contentou em passar o reveillon na casa dos nossos pais. Ela e as amigas inventaram de passar a virada na praia. Eu não quis. Não gostava de amontoamento de gente, barulheira, bebida correndo solta. As gurias insistiram. Recusei.
Numa das minhas investigações no Facebook do Nando, tive uma surpresa que me deixou estarrecida. Céus! Ele iria comemorar o novo ano na mesma praia que eu tinha me negado a ir!
Rafa e as outras já haviam desistido de mim quando eu implorei para que me levassem também. Minha sorte é que uma das meninas tinha desistido de ir, sobrando lugar. E lá fui eu, para a praia, torcendo para que além da virada do ano, minha vida também virasse de ponta cabeça. Eu já estava cansada de sonhar. Minha vida precisava de ação.
Foi o que eu tive.

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