Desliguei
o celular sem pensar sequer em me arrumar. Fiz uma varredura em todas as fotos
da Rafa que estavam em lugares visíveis. Sem perder tempo, enviei uma mensagem
para ela dizendo assim: Não apareça. Nando vem vindo para cá. Passei uma
água no rosto, escovei os dentes, estendi o lençol e ele apertou no interfone.
Dez segundos depois meu namorado estava batendo na minha porta.
Parecia
que não nos víamos há anos. Transamos no sofá da sala, no meu quarto e debaixo
do chuveiro. Já era quase meio dia e àquela altura deduzi que estava tudo bem
entre nós dois novamente. Abraçado a mim, ele confessou em tom de desculpas:
−
Acho que peguei pesado com você.
−
Enquanto a gente transava?
−
Não – ele riu, para depois ficar sério em seguida – Antes, quando eu disse
aquele monte de coisas para você.
−
Eu já esqueci – garanti a ele.
−
Desculpe. Eu não podia acusar você de ter outra pessoa. Eu sei… sinto que seu
amor por mim é verdadeiro.
−
Não há nada mais verdadeiro que isto – respondi beijando-o nos lábios.
Aliás,
era a única coisa verdadeira. Eu arrematei:
−
Fico feliz em você saber disso.
−
Também amo você.
Quase
chorei.
−
É a melhor notícia do ano.
Nos
beijamos, um beijo ardente, arrebatador. Eu me sentia no céu. Não queria mais
dormir. Ouvir dos lábios do Nando uma declaração de amor aliviava todos os meus
temores. Talvez fosse mais fácil conseguir o perdão dele no dia em que eu
tivesse coragem o suficiente para contar a verdade.
Meia
hora mais tarde resolvemos sair para almoçar. Assim que pude, mandei outra
mensagem para Rafaela dizendo que o apartamento estava liberado.
−
Você se deu conta que semana que vem temos um feriadão?
Estávamos
almoçando quando ele fez a pergunta. Olhei para Nando surpresa.
−
Feriadão?
−
Da Páscoa.
Nando tanto tomava conta dos meus
pensamentos que eu não havia lembrado isso.
−
Puxa… é mesmo. Passou rápido demais.
−
O que você acha de passarmos na praia? Só nos dois, em uma pousada bem
escondida?
Adorei
a proposta e por isto respondi de bate pronto:
−
Acho perfeito. Mas você irá conseguir uma reserva assim tão perto?
−
Já tenho tudo reservado. Como eu sabia que você iria aceitar, me adiantei.
−
Nossa, eu sou muito previsível. Adorei a ideia.
−
Bem, agora vem a notícia ruim.
Cheguei
a deixar o garfo cair.
−
O que é?
−
Calma, não é assim cem por cento ruim. Vou passar a semana em São Paulo, volto
na quinta à tarde e saímos na sexta bem cedinho.
−
Acho que posso suportar.
−
Creio que sim.
−
Vai me ligar para que eu possa monitorar seus passos?
−
Não sabia que você tem medo da concorrência.
−
É só de uma que tenho medo.
−
Raquel é carta fora do baralho – Nando fez uma pausa e confessou – Ela andou me
procurando um dia desses. Lá no banco.
O
ar me fugiu e eu empalideci. Fiz a pergunta óbvia:
−
O que ela queria?
A
resposta foi mais óbvia ainda:
−
Reatar.
−
E o que você disse?
−
Se hoje estou aqui com você, qual a resposta que presume que eu dei?
−
Preciso saber as palavras que você usou.
−
Disse que amava outra pessoa.
−
E a reação dela?
−
Chorou, se lamuriou e foi embora.
−
Será que ela vai desistir agora?
−
Espero que sim – suspirou o Nando.
−
Mas seus pais a adoram, não é?
−
Isto não faz a menor diferença para mim.
E
se eles me odiarem qual a diferença que fará para você?
O
domingo terminou perfeito. Nem voltei para casa. Dormi na casa do Nando e na
segunda-feira bem cedo ele voou para São Paulo. E eu comecei a contar nos dedos
os dias para viajarmos juntos.
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