domingo, 25 de março de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 2)

Chegamos na tarde do dia 31. Nosso apartamento ficava no centro, a três quadras da praia. Eu mal podia aguentar minha ansiedade. Algo me dizia que aquela noite seria “a noite”. Lógico, eu disfarcei minhas emoções. Rafa e as outras meninas estavam elétricas! Só falavam que iriam beber e beijar muito até o sol raiar. Na verdade, não me passava pela cabeça a hipótese de não ver o Fernando naquela noite. Sim, eu sabia que haveria muita gente e que encontrá-lo poderia ser bem complicado. Só que eu não podia desistir. E além do mais, o feriadão se espicharia por uns quatro dias. Eu estava rezando para que ele ficasse lá por todo aquele tempo. 
Coloquei uma roupa branca, prendi o cabelo com outra faixa branca e achei que estava bem, atraente até. A Rafa passou por mim e perguntou, sem maldade alguma: 
- Você está com alguma má intenção?
 Minha timidez era conhecida em todas as rodas. Logo fiquei um pimentão, meu rosto quase da cor do meu cabelo. Felizmente uma das meninas veio falar com a Rafa, o que desviou a atenção da minha irmã. Meu coração voltou ao lugar e saímos para comemorar. A tensão me corroia por dentro, de fora a fora. 

Como eu imaginava, a praia estava bombando. A noite estava linda. Havia um grande palco na areia, onde um grupo de pagode (odeio!) tocava uma música que eu não escutei de tão nervosa. E tinha gente demais! Comecei a desanimar. Olhei para os lados. Enxerguei garotos de todas as formas, cores e tipos. Nenhum era nem ao menos parecido com o Nando. Lembrei de um detalhe crucial. A namorada. Será que ele a traria? Mas… e se a infeliz estivesse junto com ele? Minhas pernas enfraqueceram só de pensar nesta possibilidade. 
Para afastar os maus pensamentos, resolvi entrar, literalmente, na onda. Não esperei pela meia noite e saltei todas as ondas possíveis. Saltei e me soltei. Eu ria de tudo, de puro nervosismo. A Rafa me olhava, estranhando aquele meu comportamento inusitado. Provavelmente nunca tinha me visto tão descontraída. Eu nem tinha percebido, mas estava chamando atenção de vários caras. Alguns se aproximaram de mim, mas nenhum deles era o Nando. Despachei um por um, sem dó nem piedade. 
Os minutos foram me levando até a meia noite. Além do Nando – que era o meu objetivo de vida – eu também estava ansiosa para ver os fogos de artifício. Quando a contagem regressiva começou, eu resolvi soltar de vez todas as bruxas que me sufocavam. Queria gritar mais alto que todo mundo: Dez! Nove! Oito! Sete! Seis! Cinco! Quatro!…
O “três” não saiu. Dei de cara com o Nando a poucos metros de mim, agarrado em uma latinha de cerveja, mais para lá do que para cá. O ano novo chegou e me pegou paralisada, anestesiada. As gurias me abraçaram e eu fingi que retribuía os votos. Minhas pernas estavam grudadas na areia e os olhos fixos no Nando. A Rafaela já estava bêbada, não se deu conta que eu estava em outra dimensão. As outras meninas também já queriam trocar as pernas. Então, passados os primeiros quinze minutos em que todos os fogos explodiram – e que eu não vi nenhum – o Nando começou a se afastar, pela beira da praia, com os amigos. Não tinha nenhuma mulher no grupo, o que era ótimo. 
Fui atrás. Passei a seguir o Nando. Era tanta gente que eles não perceberam que estavam sendo seguidos. Nem eu sabia o que pretendia, mas se eu ao menos descobrisse onde ele estava hospedado, já era uma grande coisa.
Ele e os amigos caminharam por mais uns dez minutos, devagar. Todos tinham bebido além da conta. Lá pelas tantas, um deles desabou na areia e não levantou mais. Foi a senha para que um por um fosse sentando no chão, em silêncio. O Fernando se afastou um pouco mais, chegando perto das ondas, a ponto delas molharem seus pés. 

A presa estava ao meu alcance.

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