−
Satisfeito? É esta a minha história.
Eu
estava sentada na beira da praia, na areia, ao lado de um amigo meu. Minha saga
longe da minha família e de Nando já fazia cinco meses. Cinco longos meses de
saudade e silêncio total da minha parte.
−
Incrível – murmurou ele, encostando o rosto no meu ombro – Mas acho que esta
história ainda não terminou.
Olhei
para Victor, meu amigo desde que eu chegara a Natal. Ele era filho da dona da
pousada onde de hóspede rapidamente passei a funcionária. Lá eu fazia de tudo.
E Victor se tornou meu fiel companheiro e confidente praticamente desde a
primeira semana.
Victor
era um rapaz de vinte e poucos anos. Alto, magro, adorava festas e tentava
desesperadamente me trazer de volta à vida. Logo fiquei amiga dele e do seu namorado.
Fazíamos uma turma estranha. Era comum eu sair com eles. Frequentava, quando
meu trabalho permitia, lugares interessantes. Victor e Fred bem que tentaram
fazer com que eu me interessasse por outros homens. Não deu certo. Minha
cabeça, meus pensamentos, jamais abandonavam o Nando. O fim do nosso
relacionamento era algo sofrido mesmo depois daqueles meses. Victor pressentiu
que minha tristeza era causada por um coração partido e, sutilmente, muitas
vezes, tentou fazer com que eu revelasse o que tanto me torturava. Porém, se
pensar no Nando já era doloroso, imagina falar sobre ele? Era demais. Não sabia
se suportaria.
Mas
naquela noite eu subitamente me senti disposta a falar. Victor tocou no
assunto, eu desviei, ele chamou de volta e eu resolvi contar alguma coisa.
Muito pouca coisa. De repente eu estava revelando tudo, descontroladamente. Não
sei por quanto tempo falei. Victor escutou tudo atentamente, sem me
interromper. Algumas vezes exclamava alguma coisa, surpreso – positiva ou
negativamente – e no final declarou que a minha história não havia acabado
ainda. Achei surpreendente.
−
Já pensou – perguntou-me ele – no tumulto que você está causando na sua
família? Eu digo em toda a sua família. E isto inclui seus pais, sua irmã, seu
namorado que é também seu primo e os seus tios... Você provocou uma revolução.
Pus
as mãos na cabeça, quase em pânico.
−
Por favor, Vic, não me faça lembrar isso.
−
Eles devem estar em pânico, apavorados, desesperados! Imagine, não tem notícias
de você há cinco meses! Devem achar que você está morta!
−
Mas não estou – me defendi freneticamente – E eles saberiam se eu estivesse.
−
Saberiam de que jeito? – ele perguntou cético.
−
Notícia ruim chega rápido.
−
Ah, não venha com esta, Pauline! Você muito bem podia ter sido estuprada e
assassinada – não necessariamente nesta ordem. Você tem olhado seu mail?
−
Encerrei a conta.
−
E o Facebook?
−
Nunca mais… não tenho coragem. Se eu entrar na minha conta, vou me sentir
tentada a entrar no perfil dele... E eu posso descobrir coisas que me machucam.
−
Tipo... se ele tem uma namorada?
−
Exato. O Nando pode até ter voltado para a ex. Eu não preciso saber destas
coisas, Vic! Eu vim para cá para poder esquecê-lo, tentar uma nova vida, tirar
da minha mente que ele me odeia a ponto de me dar uma surra.
−
A surra que ele lhe deu… Nossa, não existe nenhuma prova maior de amor do que
esta.
Olhei
para ele sem poder acreditar no que ouvia.
−
É que você não esteve lá para assistir ao quebra pau. Os olhos dele, Vic, foram
a pior coisa que já vi na minha vida! Eles faiscavam ódio! Durante semanas,
logo que vim para cá, toda vez que fechava meus olhos, eu enxergava os dele. Eu
não merecia isto, Vic. Eu não merecia o ódio do Nando. Mas acho que a culpa foi
minha… eu não soube conduzir a situação. Eu deveria ter falado desde o início
sobre quem eu sou e…
−
Agora não adianta mais – interrompeu Vic, levantando-se e me puxando pela mão –
O que passou, passou. Imagine o que ele deve ter sentido quando caiu em si e se
deu conta que havia surrado a mulher que amava, chegando mesmo a quase quebrar
o seu pulso? Ele, o seu querido amor, deve estar em crise de consciência até
hoje.
Meu
Deus, como eu gostaria desesperadamente acreditar naquilo em que meu amigo
afirmava tão convicto. Entretanto, eu sabia que as coisas não haviam sido
assim. Nando jamais me perdoaria. Eu havia traído sua confiança e todo seu
amor. Se ele quisesse, já teria me encontrado.
−
Não, Victor. Não tenho esperanças. A única coisa que eu quero é ficar aqui,
quietinha, em paz.
Naquela
noite não tocamos mais no assunto e nem na noite seguinte. O fato de eu ter
relembrado a minha história com o Nando fez com que todos os nossos momentos –
felizes e infelizes – voltassem com força total. Cheguei mesmo a ficar um pouco
deprimida. Fiz tanta força para tentar esconder em algum lugar da minha mente
minha vida com o Nando... E agora tudo tinha ido por água abaixo em um piscar
de olhos. De novo. Pelo menos eu estava longe. Mas, mesmo assim, eu comecei a
me perguntar, incansavelmente: será que ele estava sentindo minha falta? Quem
era a dona do seu coração agora? Eu esperava, sinceramente, que meus pais
estivessem bem e que compreendessem os motivos que me levaram a tomar aquela
atitude tão dramática.
Entretanto,
Victor voltou à carga dois dias depois. Após o almoço, eu resolvi me
espreguiçar na rede. Na verdade, eu não podia estar fazendo aquilo. Era meu
horário de serviço, mas eu estava tão cansada... Meu sono havia sido repleto de
sonhos com ele. Ele, Nando. Sonhos desconexos, que não tinham nem começo e nem
fim. Eu perdi o sono às quatro da manhã e fiquei com os olhos arregalados até a
hora de levantar.
−
E então? Vamos tomar uma atitude?
Entreabri
os olhos e me deparei com Victor, ao meu lado, na rede. Balbuciei:
−
Tudo bem, eu já vou levantar.
−
Não estou falando de serviço. Estou falando do tal do Fernando.
Sentei-me
tão rapidamente na rede que ela virou e eu desabei no chão. Às gargalhadas,
Victor me juntou enquanto eu me recompunha da minha vergonha.
−
Esqueça – gemi vermelha de raiva e embaraço.
−
Não – respondeu ele com firmeza – Você não está sendo justa com você mesma.
−
O que você quer, Vic? – eu pergunte, quase chorando – Não quero levantar esta
história de novo.
Ele
me mostrou o celular.
−
O que é isto?
−
Um celular.
−
E aí? – eu quase berrei.
−
Vamos ligar pra ele?
Tentei
arrancar o celular dele sem sucesso.
−
Não! Vic, nós não iremos fazer isto.
−
Você está com saudade dele, não está?
Fiquei
muda.
−
Está ou não?
−
Claro que sim – respondi emburrada.
−
Ligue para ele.
−
Esqueci o número.
−
Impossível. Você sabe até o CPF dele.
−
Vic, não vou ligar. Quer que eu diga o quê?
−
Que você o ama.
−
Não.
−
Tem certeza?
−
Absoluta.
−
Bem, e quem sabe escutar a voz dele? Só a voz?
Fiquei
tentada por cinco longos segundos, mas respondi logo:
−
Não. Vou sofrer. E além do mais, ele vai ver que é um número estranho, com
código de área diferente. Vai saber que sou eu.
−
E isto não é interessante? – insistiu Victor.
−
Seria, se ele me amasse.
−
Não vai saber... Eu configurei meu celular para que ninguém saiba que sou eu
quem está ligando.
−
Quer dizer que no visor do celular dele vai aparecer a mensagem “número
confidencial” ou algo do tipo?
−
Exato.
Titubeei
de novo.
−
Não, Vic. É melhor não. Vou sofrer.
−
Está certo. Mas pense nisto. Eu sei que você vai pensar.
Fui
fazer minhas coisas, realmente sem tirar a proposta de Victor da minha cabeça.
Que mal faria escutar a voz dele? Um segundo ou dois e pronto. Eu desligaria. O
Nando não se daria conta que era eu.
E
se fosse pior? Se a saudade aumentasse?
Oie to amando a historia estou acompanhado desdo começo!!!! qdo vai ser o proximo capitulo espero q nao demore......
ResponderExcluir