Acordei com o sol na minha cara. Sentei de um pulo sem saber onde eu estava. Eu tinha areia por tudo. No rosto, nos cabelos, até mesmo na língua. Enquanto minha cabeça levemente girava, me deparei com o Nando dormindo tão relaxado que parecia que estava em sua própria cama.
Devia ser mais ou menos sete horas da manhã. A praia ainda estava deserta, com alguns
resquícios deixados pela festa de ano novo. Algumas pessoas iam e vinham, nos
ignorando completamente. Ainda bem. Meu estado deveria ser lamentável.
Minha irmã talvez estivesse preocupada com meu sumiço, pois eu simplesmente desapareci em
plena noite. Entretanto, a julgar pela quantidade de álcool que eu a vi bebendo, era bem possível que ela nem houvesse acordado ainda.
Olhei
novamente para o Nando, imaginando o que lhe diria quando ele finalmente
acordasse. Meu coração apertou. Ele era lindo. Passei tantos anos fantasiando
que o beijava e tocava... Agora era quase inacreditável que isto já tinha
acontecido. Mas e depois que ele acordasse? O que Fernando teria para me dizer?
Os
amigos dele já tinham ido embora. Estávamos apenas nós dois. Ele podia simplesmente acordar, me dar bom dia e finalizar com um pé na bunda. Não, eu não iria suportar começar
o ano desta forma bizarra. Se o primeiro dia começasse assim, o que seriam os
próximos 364? Nossa, que tragédia.
− Bom
dia.
Dei um
pulo e me virei para o Nando. Ele estava se espreguiçando, também com areia por
tudo. Com os olhos semicerrados, me perguntou:
− O que
foi?
− Como?
− Por
que você está me olhando assim?
− De que
jeito estou olhando você? – perguntei, espantada.
− Com
cara de susto.
Dizendo
isto ele sentou para, em seguida, ficar em pé. Pronto, pensei eu, apavorada.
Agora o Nando vai se despedir e...
− Vou
buscar uma água ali no quiosque. Você quer?
Só
balancei a cabeça fazendo que sim, com um aperto no peito. Aquela era a senha.
Uma vez não disseram que iam comprar cigarro na esquina e sumiram? A versão
comigo seria uma garrafa de água.
− Já
volto.
Nem
respondi. Achei que fosse chorar, enquanto eu o observava caminhando lentamente,
a barra das calças brancas arrastando pela areia e a camisa amassada cobrindo o
peito. Não poderia haver homem mais charmoso na face da terra e ele tinha sido
meu por tão pouco tempo. Não consegui segurar as lágrimas. Ele foi se afastando
de mim, possivelmente para sempre. Eu não podia deixá-lo ir embora! Será que
tantos anos de caçada se resumiriam somente a algumas poucas horas? Não! Não!
Não!
Fiquei
de pé e o movimento foi tão rápido que eu quase caí. Para minha surpresa, então,
me deparei com o Nando na frente do quiosque abrindo a carteira e pagando as duas
garrafinhas de água. Depois ele se virou e veio na minha direção com aquele
andar arrastado. Discretamente enxuguei minhas lágrimas, amaldiçoando a mim
mesma por ser tão emotiva. À medida que se aproximava, percebi que o Nando me
olhava de um jeito estranho. Fiquei constrangida e fingi que arrumava o cabelo.
Quando
ele me entregou a garrafinha, perguntou casualmente:
− Achou
que eu fosse fugir?
− Não –
respondi fingindo observar o mar.
Fernando
ficou em silêncio por alguns segundos parado do meu lado, mas sem me encostar.
A presença dele era como um circuito elétrico percorrendo meu corpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário