quinta-feira, 19 de abril de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 10)


Cheguei a levar um choque. Encarei−o e me deparei com aquele sorriso que eu já tinha aprendido a amar. Senti meu rosto arder, mais do que já estava ardido.

− Espero que eu possa ser de alguma ajuda para você.

Ele se inclinou e me beijou. Fiquei emocionada. Pelos olhos dele percebi que o Nando já gostava um pouco de mim e isto não era ilusão alguma da minha parte.

− E você decidiu o que pretende fazer?

 Nando suspirou de novo e pegou a minha mão.

− Ser feliz.

Quase explodi de felicidade de novo. O Nando estaria querendo dizer que desejava ser feliz comigo? Se fosse isto mesmo, eu era a mulher mais realizada do mundo e ainda estávamos em primeiro de janeiro. O meu novo ano prometia ser tudo de bom.

Não resisti e me colei nele, pouco me importando com a ardência da minha pele. A princípio ele ficou meio temeroso de me machucar. Chegou mesmo a dizer:

− Sinto sua pele ainda quente...
− Não me importo – murmurei aconchegada a ele e logo sentindo os seus braços me envolverem. – Isto não é o mais importante agora.

Ficamos um tempão ali, aos beijos, abraços ou simplesmente de mãos dadas. A madrugada se passou e o sol nasceu ante os nossos olhos. A felicidade era algo palpável para mim. Nunca a tinha sentido tão próxima. Tudo o que Nando dizia, eu ria. E ele ria da minha risada, realmente parecendo satisfeito de estar comigo. Será que a tal da Raquel nunca o fizera feliz? Eles nunca riam juntos?

Eram mais ou menos sete horas da manhã quando decidimos ir embora. Eu estava louca de sono, mas se ele me convidasse para ficar o dia inteiro ali na praia, teria ficado evidentemente. Porém, para o meu desalento, enquanto meu primo me levava de volta para casa, anunciou:

− Tenho que voltar hoje.

Olhei−o, espantada. Aquilo tinha sido um choque. Eu já imaginava que ficaria com ele durante pelo menos uma semana.

− Já? Você não vai ficar todo o feriadão aqui comigo? Quer dizer, na praia?
− Recebi uma ligação do meu diretor. Vou ter que viajar para São Paulo hoje à noite. Temos alguns problemas jurídicos na matriz e eu fui escalado para ir resolver.

Fiquei muda. Mais da metade da minha alegria tinha se esvaído.

− Você queria que eu ficasse? – ele perguntou subitamente.

Que vergonha. E agora? O que eu vou responder?

− Claro que sim. A gente se deu tão bem… acho que vou sentir sua falta.

Eu temia que ele me achasse um grude. Imagine. Mal fazia 24 horas que havíamos nos conhecido e eu já estava praticamente me declarando para o Nando.

− Acha que vai sentir minha falta? Não tem certeza ainda?
− Claro que vou sentir – confessei olhando direto para frente, segurando com força a mão dele. – É uma pena que eu não possa dar um tiro no seu chefe.

Ele riu, a gargalhada cristalina que eu adorava.

− Você é engraçada.

Encarei−o, admirada com o que ele tinha dito. Será que era um elogio?

− Engraçada? Você me acha engraçada?

Foi a vez de o Nando me olhar, surpreso com a minha reação.

− Qual é o problema? Se você fosse uma mulher insossa, eu não teria passado uma noite em claro na sua companhia.

Ponto para mim.

− Achei que você estava me chamando de palhaça.
− De jeito nenhum – ele riu de novo. Passados alguns minutos, Nando confessou – Você me faz rir. Eu gosto disso. Já fazia um tempão que eu não achava graça de nada.

Quase chorei. Não esperava que ele fosse capaz de dizer uma coisa destas justo para mim, uma completa desconhecida. Tentei fazer com que a minha voz não tremesse quando respondi:

− Se eu faço você rir é porque me sinto bem ao seu lado. E eu… bem, é uma pena que você não poderá ficar mais tempo aqui comigo.

Estávamos perto do meu prédio e uma tristeza se abateu sobre mim. Ele pareceu notar, pois me fez parar de repente e me deu um longo abraço. Ficamos algum tempo assim, sem dizer nada. Porém, passados alguns momentos, tivemos que nos desgrudar. Ele me encarou e eu notei que havia carinho em seus olhos.

− Cuide−se – disse ele.

Eu queria ansiosamente que o Nando dissesse mais coisas que além de um simples “cuide−se”. Parecia quase uma despedida eterna.

− E o que você vai fazer?
− Vou viajar.
− Não é isto que estou querendo saber – tomei coragem, respirei fundo e perguntei – Você vai manter o noivado ou não?

Ele sorriu, meio triste. Achei que não fosse responder, até.

− Depois que eu voltar da viagem terei uma séria conversa com ela.

Consegui segurar um suspiro de alívio em tempo. E será que se o Nando brigasse com a noiva, ele ficaria comigo?

Minha pergunta ficou sem resposta. Nando consultou o relógio e disse:

− Vou dormir até o meio dia, depois vou pegar o carro e ir para casa arrumar minhas coisas.
− Que horas você embarca?
− Às 19 horas. Creio que vou ficar uma semana por lá.
− Tudo bem – disse eu sentindo o coração apertado. – Espero que você faça uma ótima viagem.
− Obrigado.

Ele se inclinou e me beijou docemente. Sim, era uma despedida. Ele romperia o noivado, mas não tinha dito que ficaria comigo. Ficaria com quem, então? Haveria alguma outra na jogada além de mim?

− Eu vou ligar para você.
Nossa! Meus olhos devem ter brilhado quando ele disse isto. Fiquei meio sem voz de tão surpresa.

− Vou ficar esperando.
− Vou ligar para você – ele repetiu dando−me mais um beijo.

Depois disso o Nando se virou e foi embora. Eu fiquei na calçada, repetindo a cena do dia anterior, observando−o se afastar desta vez mais apressado. Porém, antes de chegar à esquina, meu amor se voltou como para se certificar de que eu ainda estava ali, feito uma estátua apaixonada a cuidar cada passo seu. Para minha surpresa, ele me atirou um beijo e em seguida dobrou na rua seguinte, sem sequer me dar tempo de retribuir o carinho. De qualquer forma, aquele simples gesto me deixou feliz. E cantando, cheguei em casa.


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